Sighisoara

O Adi trabalha com e para o desenvolvimento do Ubuntu. Entre isso e outros trabalhos a maior, parte do seu dia é em frente ao computador. A Alexandra, faz algo similar. Uma espécie de recursos humanos pelo telemóvel e Internet onde lá vai orientando pessoas para cuidarem dos idosos, que a sua contrapartida Austríaca encontrava. Isto para dizer, que os horários dos dois são mais flexíveis que o normal. Além disso era fim-de-semana, por isso os pequenos-almoços misturavam-se com as horas do almoço e o jantar era algo em que logo se pensava.


Os pais do Adi, andaram atarefados e apenas na noite de domingo, conseguimos comunicar devidamente com eles. Entre casamentos e visitas aos seus pais, passaram os dias fora de casa. Comunicar como quem diz, porque a mãe do Adi, não fala inglês e o pai para surpresa de todos lá desenrascou umas palavras e conseguimos ter uma pseudo conversa.
Mas antes de saírem para os seus compromissos, a mãe do Adi assegurou-se que não nos faltava nada para pequeno-almoço. Vá de café, leite, pão, tomates e pepinos, compotas caseiras e algo de novo para nós, vinete. Uma pasta de beringela. Nós experimentámos e comprovámos que era de facto delicioso, mas barrámos uma quantidade que para nós seria a quantidade normal de barramento numa fatia de pão. Eles viram a primeira vez que o fizémos, entre os cafés, os enchidos e os batidos de banana, e disseram, "não não!" Têm que pôr mais no pão! Assim é que é bom." Se bom era, melhor ficou este vinete com pão, ao invés de pão com vinete.
No tempo do comunismo e da cortina de ferro, as coisas eram um pouco mais rijas por aqui. Dos pormenores e detalhes que vamos descortinando, descobrimos que bananas e laranjas, só no Natal! Não se encontrava em mais lado nenhum durante o resto do ano e o governo apenas as importava durante a celebração anual. Ou seja, as recordações de infância do Adi, relativamente ao Natal, estão associadas aos sabores destes dois banais frutos para nós. Assim se explica que O Adi e a Alexandra, adorem comer batidos de banana ao pequeno-almoço. Traz boas recordações.

Nós, juntámo-nos à vida normal do Adi e da Alexandra.
Entre os dois, existem cães e gatos. E há dois ou três dias, Adi encontrou à porta de casa uma jovem coruja em dificuldades. Trouxe-a para casa até ela se recompor. Como ele não é nenhum perito em corujas, usa aquilo que melhor sabe, a Internet, para as duvidas que a coruja lhe vai colocando.
Visitas ao veterinário, visitas à loja dos animais, visitas ao supermercado para preparar um chili de soja e passar o resto do dia em casa, à espera que o tempo desse sinal de chuva ou não. Como não melhorou, lá teve que ser. Um serão ao sabor do chili, dos vinhos e licores caseiros, das palinkas (o medronho cá do sítio) e da doçaria que o pai do Adi trazia do trabalho.


No domingo o tempo ficou bem mais soalheiro e aproveitámos para participar em mais um costume que ficou por cá devido ao comunismo. Na altura não havia muitas televisões. E mesmo as que houvessem, apenas apanhavam a emissão controlada pelo governo de quatro horas diárias. Sem muitas mais diversões, o povo, fazia aquilo que podia. Juntavam comida, juntavam as pessoas e lá iam todos para um rotineiro piquenique. Todos os dias livres, soalheiros era possível ver famílias e grupos enormes de toalha estendida na relva e de carne na brasa.
Nós não tínhamos carne, mas tínhamos os restos do chili, e entre uns pedacinhos ali, e umas jolas acolá, fomos buscar mais um para a festa e lá estendemos a toalha junto às margens de uma lago. A praia aqui está a mais de seis horas de carro. Ao longe, podíamos ver outros grupos similares ao nosso. Uns com mais crianças, outros com mais canas de pesca, outros com música, mas todos no mesmo sítio para o mesmo. O prazer do domingo.


A noite chegou e fomos visitar a razão da placa da Unesco à porta da cidade. O centro histórico.
Não há muitas fotos deste passeio. De qualquer forma, não iriam transmitir aquilo que vimos. Ao passar as portas para o centro, debaixo do relógio da torre, entrámos num aglomerado de ruinhas e ruelas em tudo similar aos "outros centros históricos" espalhados por esse mundo fora. Mas o facto de ser de noite e de as ruas estarem desertas e de ficarmos a saber que neste centro, ainda se vive e ainda se respira, fez desta visista que teria tudo para ser turística, uma passeat descontraída pela noite. As pessoas vão à câmara que lá está há séculos e os estudantes frequentam as mesmas paredes que os seus tetra-avós frequentaram.
Esperámos debaixo do relógio, só que do sítio errado, pela meia noite e pelos bonecos que no alto se animam por uns instantes.

Fizemos as despedidas num bar. O único aberto até depois das dez. Com bebidas e conversas das gafes do governo. Dissemos adeus à Alexandra que foi de bicicleta, ao Alex e ao Silviu os últimos conselhos para a visita a Portugal e nós fomos a pé para casa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Couchsurfing goes mainstream....

Há uns dias ia no meu carro a ouvir a Rádio Nacional Espanhola e deparo-me com um programa dedicado ao couchsurfing...os espanhois estao a aderir e o conceito de tirar férias curtas e "aproveitar" a casa e companhia de outros é considerado um sistema anticrise, entao é ouvi-los falar dos sitios a que já foram e as más mas sobretudo boas experiencias.

Quando voltarem fazemos um programa sobre as vossas experiencias tb...

Abraço,

R.