Pasayigit – Kircasalih

Nada como acordar com nuvens no céu, prestes a descarregar a sua fúria em cima de ti.
Mas vamos com calma, porque dentro do restaurante não se faz sentir frio ou chuva. Ainda temos que arrumar tudo nas sacolas, conversar mais um pouco com o Salih ao sabor de chá e bolachas e dizer adeus. Agora sim, podemos começar a pedalar e a chuva cair.


Completamente abatidos, com o cansaço e o mau tempo, entrámos em mais uma pequena vila. Ou assim nos parecia quando lá chegámos. Mas era uma vila estranha. Tentámos encontrar qualquer coisa como um supermercado ou uns tavuks döners, mas só víamos blocos de apartamentos e mais blocos de apartamentos, com a ocasional loja de conveniência nos rés-do-chão. Foi aí que nos sentámos. Num passeio sujo, ao lado de uma lojita, rodeados por prédios e mais prédios, com as senhoras na varanda a trocarem olhares de lado e os transeuntes espectados como se pertencêssemos a um jardim zoológico. Encostámos a cabeça aos joelhos e tentámos descansar...

...aos poucos lá fomos despertando para a situação. Pelo menos não chovia. Entrámos na loja em busca de qualquer coisa para comer. Começámos a conversar um pouco. Não muito. Um dos distribuidores de cafés e doces estava com a carrinha estacionada em frente. Durante um cigarro, metia conversa e tentava saciar a sua curiosidade. Passado um pouco, disse para esperarmos e abriu as traseiras da carrinha. Deu-nos um bolo tipos os da DanCake e seguiu caminho.


Ainda a recuperar de tamanha oferenda e um psst psst dos céus chega aos ouvidos. Olhámos para cima, e um cesto preso a uma corda vêm a baloiçar por aí abaixo. A senhora que o faz descer, acena com a cabeça para o irmos receber.  Lá dentro uns pães/bolos com queijo no interior. Mas como se não bastasse, a vizinha do rés-do-chão chegou-se ao parapeito da sua varanda, com um tabuleiro. Chávenas de chá, pratinho com queijo e algo que fazia lembrar as farturas foram servidos contra a nossa vontade. Não abrimos a boca durante todo o tempo que ali estivemos sentados, mas de alguma forma todas estas pessoas não quiseram perder a oportunidade de poder ajudar um estranho.
Quando fomos embora, dissemos adeus a todas as senhoras que à varanda se assomavam, mas eram elas que agradeciam por poderem ter ajudado.

Uns metros mais à frente, e a verdadeira cidade apresentou-se. Uma razão para a existência de todos aqueles blocos de prédios. Atravessámo-la rapidamente e em direcção às colinas e suaves descidas. Voltámos ás estradas desertas em construção, novinhas em folha, aos acenos de todos os carros que apitavam assim que encontravam alguém do outro lado que justificasse todo aquele desfile de buzinas e bandeiras.


Na bomba de gasolina onde nos deixaram acampar, não havia nenhum Salih. Nem chegámos a conversar seja o que for com os mecânicos que por ali andavam. Eles mantinham a distância e nós aproveitámos a falta de socialização para tratar da saúde a cansaço, dores e febre.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que estes "diários" chegam com uns dias de atraso! As dores e a febre já passara!!!?? (não vale a pena preocupar-me,já está tudo bem!)

Vocês devem andar com cara de famintos :):) toda a gente vos dá comida!

Beijokas gordas :-)
MM

Nuno Vieira disse...

Incrível, tenho de adoptar essa estratégia, aqui, em Portugal. Eu também quero pararoca gratuita!