Aydin

Meltem é uma investigadora ocupada.

Nos dois dias que ficámos em Aydin, só conseguimos estar com ela último dia. Chegámos a uma sexta, e depois de passar o serão a conversar e a beber vinho, ela avisou-nos de que iria acordar cedo. Como membro da universidade e professora, ficou encarregue de vigiar exames durante a manhã de sábado. Como só se sabe a duração do exame na altura, quer professores quer alunos, ao abrir um envelope com as instruções e regras do jogo, não deu para planear grandes almoços ou convívios.
O exame dela foi de três horas....


Nós acordámos tarde e fomos explorar o resto da manhã. Não ao centro, pois a Meltem mora nos subúrbios, mas apenas na zona. Indistinguível de qualquer bairro social que se preze em Portugal. O objectivo era o de sempre: comida! Mas depois de ver passar pessoas carregadas com sacos de vegetais e frutas, trocámos os habituais supermercados e seguimos o rasto dos nativos.
E eis que, encontrámos um pazar! O nosso primeiro. Entrámos e deixámo-nos maravilhar com a quantidade de frutas e legumes frescos. Cheio de pessoas e de barulho, conversas e tilintares de moedas, cores e cheiros, assim é um pazaar na Turquia.
Demos uma vista de olhos, sempre com a carteira no bolso e a máquina fotográfica arrumada. Tentávamos passar despercebidos... Mas em vão! Elaborámos estratégias de compra, escrevemos listas de legumes. Mas no fim, nem as fotos foram tiradas em prol de um look mais natural, nem a carteira resistiu aos enganos e trocas-voltas dos vendedores.  Anos de sabedoria para ganhar mais uns trocos em qualquer negociata.
Saímos desiludidos. Sentimos que fomos enganados por sermos estrangeiros e no fim o saco não vinha assim tão cheio.
Fomos ao supermercado, onde os preços afixados e o código de barras não mentem.


A explicação veio quando chegámos a casa. Meltem, disse-nos que não é  normal comprar meios quilo, duas cebolas ou três batatas! Aqui na Turquia as famílias são numerosas e em cidades mais pequenas, os vendedores não aceitam que se compre menos de 1 Kg e se o cliente leva menos, paga o que pediu mas leve um bocadinho menos...  A razão pela qual aquele limão nos saiu tão caro!

Meltem andava em passo rápido. Tinha um casamento nesse dia e além das indumentarias necessárias e aprumos de maquilhagem, também teria que maquilhar a amiga.
Nós passamos um serão tranquilo em frente ao pequeno ecrã.

No dia seguinte, viva aos pequenos-almoços turcos! Ovos, pão, iogurtes, cafés e chás, tomates e pepinos e sempre azeitonas! Que delícia!
Mais folgada, pudemos ir passear com a Meltem à cidade. Um passeio domingueiro por todos os seus sítios predilectos na cidade.
Junto ao apartamento, uma pista pedonal era utilizada para  caminhar e jogging. Mesmo que as mulheres tivessem um lenço na cabeça.
Na parte mais antiga da cidade, provámos boza. Uma bebida que deve ser bebida fresca, com canela no topo. Muito densa  com um sabor e consistência completamente diferentes para nós, feita de vários cereais e grãos.  Além de saber bem é saudável e no Inverno é o que toda a gente bebe.
Passámos pelo fórum de Aydin,  que como em todo o lado, é a escolha para muita famílias durante as horas de lazer e para as compras que se querem mais fashion.
Ao almoço, num restaurante escondido atrás de um posto de gasolina, onde a Meltem e os colegas costumam almoçar em dias de serviço, apareceu-nos à frente, uma salada e um molho que não identificámos e... jaquinzinhos! Mas sem cabeça.


Já no centro, com um terraço à sombra de trepadeiras, aprendemos a jogar gamão e outro jogo que não sabemos o nome. Tudo ao sabor do sempre presente chá, que por aqui faz a vez das nossas bicas em quantidade de consumo e presença nas ruas.
É engraçado, depois de vir da Grécia, ouvir as mesmas frases e costumes, mas em turco. Ambas as nações acham que os sabores, jogos e tradições são invenções delas e que os outros é que as copiaram.

Aos domingos, a maior parte das lojas estão abertas e os horários das refeições são iguais aos de Portugal. Como num domingo qualquer, o Harry Potter passa na televisão, o sofá é o nosso melhor amigo, a preguiça da cozinha impera e os livros chamam o João Pestana. Foi assim em Aydin.

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