Oren

Domingo!
Sabíamos que algures a uma pedalada da casa da Oya, um pequeno-almoço turco esperava por nós.
As barrigas vazias ajudavam a pedalar com motivação, e os placards a indicar o caminho soltavam a nossa imaginação.
Se um pequeno-almoço grande sabe bem só por si, depois de uma pedalada de dez quilómetros, imaginem....
Algures pelo caminho descobrimos que afinal a amiga do trabalho, viria com mais outra amiga e o filho. Quando chegaram eram três amigas e um filho.
Mas antes da sua chegada divertida, tivemos alguns momentos a sós... Nós os três, ... e a comida.


O dono do sítio veio receber-nos e trocámos (a Oya) meia dúzia de palavras com ele. O sítio era brutal, à entrada tinha animais de quinta, galinhas e pavões e à medida que entrávamos mesas redondas com pergolas e árvores a fazer sombra, um piscina e mais mesas à volta e relva por todo o lado. Podemos dizer que metade das mesas já estava ocupada. E nós que vínhamos a expressar dúvidas pelo caminho se um negócio num sítio tão escondido teria sucesso!
Na altura de escolher o sítio olhámos meio no gozo para uma espécie de coreto no meio do jardim e foi mesmo aí que ficámos, nas alturas, sentados nas almofadas à volta da mesa.

Ainda antes de arefinfararmos o dente nalguma coisa que fosse, o dono voltou a dirigir-se a nós. Fomos com ele ver a senhora que fazia o pão caseiro. Como separava a massa em pequenas bolas e em dois minutos a transformava num disco que pousava sobre a almofada. Com o dedo molhado tocava três vezes num canto do pão e depois agarrando a almofada encostava o pão às paredes do forno onde ficava colado a cozer. Dali levámos pão quentinho para a nossa mesa.

O chá, tacinhas com cores e texturas diferentes para nós, ovos, tomates e pepinos e pão. Poderia parecer pouco, mas não era. Quando uma tacinha se acabava voltávamos a pedir mais, o chá...omnipresente, e já as taças iam a meio e as barrigas começavam a ficar saciadas quando as amigas chegaram. Trouxeram alegria com elas e desde que chegaram não pararam de conversar todo o tempo. Uma nova remessa de chá e tacinhas chega com as novas convidadas. E assim ficámos, comendo pela manhã como se não existisse mais nada a não ser aquela mesa, aquelas pessoas e aquele pequeno-almoço turco.


Lemos as borras do café, puseram-se as cosquices em dia, dormitámos, fizemos origamis e quando já toda a gente tinha saído é que nós dissemos adeus. E saímos sem pagar a conta, porque sendo um negócio novo a primeira vez é à borlix!

Com as bicicletas debaixo do rabo e o sol por cima das cabeças dirigimo-nos para a beira mar. Por meio de atalhos, na estrada ou na via para bicicletas e peões, parámos para uma limonada e continuámos.
“Querem ir até ali?” perguntava a Oya, “São só mais dez quilómetros!”. E assim  fomos avançando e parando aqui e ali para beber chá, ou ayran soda. Aprendemos a jogar ao oquey, que lado a lado com o gamão fazem parte das tardes dos turcos reformados. Ao passar em frente aos “cafés” o som das peças a chocarem umas com as outras é constante.
Esta cidade é destino de férias para muitos turcos. A classe média e a média alta talvez. São muito as moradias de Verão e na praia a enchente de turcos que se refrescavam no mar.

Debaixo de uma amoreira perdemo-nos nos nossos pensamentos, a sonhar acordados e a esticar-nos para comer amoras. O calor dava alguma moleza e apetecia-nos ou ir direitos à água ou deitar-nos a dormir à sombra. Nada disto, a Oya, sem dúvidas retomou a sua tour pelas redondeza. Depois de mais um granizado das amoras da zona, a mãe dela telefonou para saber do nosso paradeiro. Tinha a comida à nossa espera e nós onde estávamos?
Quinze minutos depois subimos ao apartamento da mãe da Oya. A mesa compôs-se com pratos e pratos de comida caseira a cheirar bem. E se bem cheiravam, melhor sabiam. Voltámos a saborear a Turquia que se come em casa. Muito melhor que todos os tavuks döners do mundo por muito baratos que sejam. A sobremesa foi arroz doce! Outra surpresa para nós todos. Nós por o encontrarmos aqui, um primo sem ovos, limão nem canela, mas arroz doce.E para elas que se admiraram de nós também termos este doce no nosso país à beira oceano plantado.


Saímos tão rápido como chegámos, a noite vinha e tínhamos alguns quilómetros pela frente. Antes ainda houve tempo para ver as maravilhas que a mãe da Oya faz. Desde os cortinados das janelas, aos naperoons, tudo em sua casa ou foi feito ou sofreu alterações. As obras primas da costura tiveram o auge com um edredon colorido todo feito à mão.
A poucos metros de casa a luz era suficiente para mais um gelado. O típico da terra feito com amoras pretas comido num banco de jardim ao lado de outros cheios de gente a comer gelados e a apreciar o fresco da noite que chegava.

Fomos para casa e antes da cama, a Oya e eu pusemos henna nos dedos. Pode ser tradição só ser utilizado em casamentos e cerimónias, mas este dia foi especial o suficiente para poder enfeitar os nossos dedos.

A conversa sobre a viagem com um chá omnipresente fechou o dia.

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