Kircasalih – Iskender

 Mais um dia cinzento no Noroeste Turco.

Durante a noite chovera, o que adicionou mais uma tarefa à nossa rotina diária. Secar a tenda. A nossa casa amarela foi construída para estações primaveris, outonais e estivais . Não para o Inverno. A viagem que fizemos pela França e Itália, os dias chuvosos na Grécia, estão finalmente a deixar danos irreparáveis. Em alguns sítios o caruncho ataca. Muito poucos, mas ainda assim... Foram demasiadas noites na casa amarela para evitar os sentimentos que temos por ela.

Foi durante a nossa rotina matinal, que uma carrinha parou na deserta gasolineira, mesmo à nossa frente, e de lá saíram três homens fardados. A GNR cá do bairro. Um deles muito sorridente, os outros, claramente, mais tensos e com a mão na metralhadora. O sorridente dirige-se a nós e começa a fazer as perguntas do costume, adicionando à lista, uma nova para nós. O passaporte se faz favor. Levou-os para a carrinha e começou a preencher papéis. Não percebíamos se deveríamos estar preocupados ou não. Mas os documentos regressaram aos donos, os rapazes fardados descontraíram um pouco e o mais sorridente lá se fez entender sobre a sua opinião, quanto às viagens de bicicleta: belo!

A labuta de mais um dia na estrada, sob chuva e paisagem desinteressante estava a dar conta de nós. Já passaram sete dias desde que saímos da casa da Oya. Precisámos de um descanso.
Que não chegaria hoje assim que recebemos um sms a avisar que o nosso anfitrião não se encontra na cidade para onde nos dirigimos. É domingo, e além disso dia de votar na Turquia. Ninguém está nas devidas casas e todos foram para a sua terra preencher os quadradinhos com cruzinhas.

E agora?

Numa cidade, um Internet café. Enquanto a Ana toma conta das biclas, vou à net enviar pedidos e número de telefone a toda a malta no raio de 40 km. Senão, teremos que pedalar até encontrar um parque de campismo ou algo mais confortável. O descanso é prioritário.
Ao sair da sala dos computadores, a Ana está na rua, sentada numa cadeira com outra ao lado a servir de mesa. Um pratinho e um garfo para picar os pepinos e tomates. E um chá. Por alguma razão já não me surpreende este cenário. Bastou parar mais do vinte minutos e um dono de um café veio oferecer queijinho e iogurtes líquidos, bolinhos e outros tantos. Esses voltaram para atrás devido à alergia da Ana, mas os pepinos e tomates ficaram. Assim como os cafés que o senhor da Internet veio à rua oferecer passados alguns minutos. É assim na Turquia!

Sem respostas, pedalámos em direcção a Edirne. Antiga capital do império Otomano, situada na fronteira com três países. Turquia, Grécia e Bulgária. A maior cidade da região e a com mais probabilidade de encontrarmos descanso.


Durante a estrada até lá, um sms. Um rapaz de Edirne pode receber-nos, amanhã. Ok. Já só temos que nos desenrascar hoje.

Depois de tantos dias de campo e vilas e alguma paz e sossego, eis uma urbe, com buzinas, buracos, tráfego, e confusão. Nas ruas ouvimos de tudo. Inglês,Turco e muito grego. Algumas pessoas com feições do leste passeiam por ali. O turismo é evidente. Ainda tentamos um hotel que vimos no Lonely Planet digital, à pressa... Mas o desânimo é unânime assim que o recepcionista começa a escrever valores altíssimos e a querer regatear. Hoje não rapaz, estamos muito cansados para isso.
Um taxista aponta-nos para um campismo a seis quilómetros da cidade. Uns polícias lá vão servindo para preencher as dúvidas nas bifurcações.

No campismo a dona, Turca, mas confundida por nós por Alemã, tal era a sua pronúncia, recebeu-nos, indicou-nos onde colocar a tenda e pronto.

Montámos o estaminé e passados alguns minutos chega ou casal de mota. Super organizados nas suas tarefas, em menos de nada montam a casa debaixo do telheiro, ao que nós lhes seguimos o exemplo. Um minuto depois começou a chover.
Amanhã decidimos o nosso próximo destino.


Nota - Não visitar cidades turísticas em época alta, com as bicicletas!

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

Calma e alento! Têm a minha total solidariedade enquanto viajante (de moto).