Mugla

Não fizemos esforço de galo madrugador. Após a porrada do dia anterior, com viagens de barco, despedidas e subidas impossíveis sob um sol implacável, só queríamos era descansar.
Shebenem saíra às sete e só voltaria lá para a noite da sua lavoura como professora de ciências.

O despertador da casa foi o Kaan, e aos poucos as ramelas de cada um foram caindo no lavatório. Marchámos para o o primeiro pequeno-almoço turco. Este rivaliza com o “English breakfast”. Tomates, pepinos, azeitonas, queijos, iogurtes, ovos, enchidos, pão... Tudo ia saindo do frigorífico ou dos armários para a mesa e nós a tentar travar Ertan dizendo que não era preciso tanto!
De barriga cheia, conversámos e brincámos com Kaan o resto da manhã até a babysitter chegar.


Com as biclas, fomos os três até à escola onde o Ertan ensinava. Os céus a descarregaram pingas grossas e a humidade a lembrar a tropicalidade de paralelos mais baixos. Por entre ruas, e a atravessar à pressa vias rápidas, com buzinas e músicas a intercalarem-se, buracos na estrada, pó, anúncios e placards pimposos com comidas suculentas, finalmente, a Turquia ganhava vida e cor!
Por alguma razão a ambos nos fazia lembrar o continente africano. Os cheiros e o ambiente de Angola ao Alexandre, a arquitectura tosca e os fumos de escape de Marrocos à Ana.

O Ertan entrou na escola com um passo atrasado e nós esperámos por ele no bar da escola. Chamemos bar, a cinco mesas redondas com o naperon por cima e a uma janela com empregados adolescentes atrás a revezarem-se na preparação do chá. Um dos colegas do Ertan, veio ter connosco meteu conversa e ofereceu-nos chá. Antes de despedir-se insistiu em mais um chá.
O toque electrónico marcava o fim da hora de aula e os corredores encheram-se com alunos e vozes. Todos fardados e todos a falarem turco, que aos nossos ouvidos soa bastante a japonês.


Com o nosso anfitrião, fomos dar um passeio de bicla pela floresta ao redor da escola. Na Turquia, as melhores escolas são aquelas que ficam foram da cidade e onde alunos e professores vivem no recinto em dormitórios ou autênticos apartamentos. Assim, a cidade não os distrai dos estudos.
Quando voltámos, fomos com o Ertan para a sala de aula e começámos a falar com os alunos. Fazíamos parte da lição deste dia! Eles faziam-nos perguntas e nós a eles. Tudo em inglês, para poderem treinar a língua e sob a orientação do professor,que guiava a conversa. Eles esforçavam-se para saber mais de nós (e houve alunos que pediram permissão aos professores para poderem assistir a esta aula) e nós satisfazíamos a nossa curiosidade sobre o sistema de ensino Turco. Ficámos com a ideia que é, imensamente, difícil entrar na universidade, e estudar em autonomia durante os três anos antes dos exames de admissão é perfeitamente normal. Mas ainda assim, muitos são os que ficam para trás. Qualquer aluno dos que ficámos a conhecer, acharia as nossas escolas uma canja. Para não fugir ao habitual o que conhecem de Portugal, tirando a situação económica, são jogadores de futebol, Simão Sabrosa, Quaresma e o brasileiro Alex.


De novo o toque electrónico e o Ertan começa a arrumar a sacola a passo rápido. Quer estrear-se com o primeiro banho do ano na praia e nós fomos convidados para ir com ele. Claro que o nosso dinâmico anfitrião, precisa de mais do que um simples mergulho no mar. Por isso é que passado alguns minutos de chegarmos a casa, as toalhas misturavam-se com os remos e a fruta com o barco insuflável, tudo na bagageira do carro.
A subida que tantos nos custou no dia anterior, fizemo-la de novo a descer, para chegar às margens do rio. Encheu-se o barco e enquanto o Ertan levava o carro até à praia e voltava a pé, nós ficámos a atirar pedras para o rio com Kaan.
Assim que pegámos no barco para o pôr na água, reparámos que um dos lados estava a perder ar! Com a bomba no carro (a mais de 1km). Não havia problema com o Ertan. Com o lado esquerdo flácido enfiámo-nos os quatro (nós, Ertan e Kaan) num insuflável concebido para duas pessoas! Com os remos a bater uns nos outros, o barco a girar às voltas, as exclamações de força e domínio naval do Ertan, o riso da Ana e o ressonar de Kaan que adormecera num barco a meter água e a chocar contra tudo o que era junco, rocha ou folha, lá fomos nós descendo o rio... Sob o olhar incrédulo das pessoas que faziam tour turísticos em barcos a motor rio acima, e clientes da restauração abundante nas margens.

Mas o barco não meteu água e depois de muita labuta lá chegámos à praia.

Ao serão comemos pasta (cozinhada à moda portuguesa, sem molho e extra cozida) e entre chás e conversas e cantorias, o dia foi terminando.
De novo arrebentados com a agitação de mil coisas novas e diferentes que experimentamos ao longo do dia, adormecemos que nem uns bebés. Mas nem por isso num sono repousante. Talvez o excesso de chá e cafeína à qual já não estamos habituados.

2 comentários:

Anónimo disse...

Turkey = virginity testing(perguntem por ai...)

Anónimo disse...

You guys, Yo know how to write. We read your blog both with my students and with my wife. We had many smiles on our face.

Ertan.