Guzelyali – Korukoy

A última vez que a água correu pelas nossas costas, foi na casa da Oya, hà quatro noites atrás. A tenda ressente-se do cheiro dos pés, o sujo na roupa acumula-se e o cansaço engana-se como se pode.
Se tudo correr bem, estamos a três dias do nosso próximo anfitrião algures no Norte da Turquia. De volta ao selim, um dia de cada vez.


Rápido!
Em menos nada, atravessámos Çanakkale em direcção ao porto e meia-hora depois regressávamos ao continente europeu.
Algo nos deu... eram dez e meia e a próxima cidade era a mais de trinta quilómetros. Ou vamos ou ficamos?

Rápido, vamos embora! Em modo ciclista de corrida, a velocidades de pedaleio nos 30km/h, voámos até à cidade junto à costa. Estacionámos, pilhámos o supermercado Bim e esticámos a barriga numa esplanada, enfiando um atrás de outro os Tavuk Döner que a senhora dos países do leste conseguia fazer à velocidade da nossa fome.

Tudo a passo acelerado, até a digestão e o calor forçarem a uma travagem e moleza brusca.
Num café, longe dos habituais homens, fomos encontrar não só internet e chá, mas um grupo de senhoras turcas que, animadamente, jogavam às cartas, fumavam cigarros, cantarolavam e abanavam os leques.


De novo nas longas rectas de asfalto, fomos parar para abastecer de água para mais uma noite de campismo.
Enquanto um enchia os cantis, o outro fazia conversa com um empregado da bomba de gasolina.
Quando alguém te pergunta se fazemos camping na nossa viagem, se hás vezes não encontramos água e depois estende os braços na nossa direcção, afirmando o óbvio nas palavras, ducha problem, é porque se calhar andamos a precisar de descansar as nossas roupas e banhar o corpinho.

Virámos em direcção ao mar. Junto à margem, perguntamos a quem por ali andava se havia problema. Até hoje ninguém disse que não podíamos acampar.  Ainda ajudámos dois homens a empurrar o barco para fora da areia da maré baixa, e demos uma mergulhaça para limpar o espírito do ducha problem.

Estamos numa ponta do Mediterrâneo. Provavelmente, a última vez que vamos adormecer ao som das suas pacatas ondas, nesta viagem.
No Norte, as montanhas e as nuvens cinzentas esperam por nós.

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