Gurrea de Gállego - Buñuel

Houve um animal que veio rondar a nossa tenda durante a noite. A Ana a abanar-me para acordar do pesado sonho que estava a ter. Uns barulhos lá fora. Uns ramos a partir. Mas assim que damos sinal de estar acordados, o animal ou fosse lá o que fosse, começou a fugir.


Ao mesmo tempo que o sol nascia, a lua cheia punha-se. Muito bonito de se ver.

Hoje é feriado. E se for como os domingos em Espanha, significa muito pouco trânsito e actividade nas localidades. Mas, para nós, deverá ser ainda mais tranquilo. Pela primeira vez, vamos dar uso ao mapa e seguir as estradas secundárias e caminhos alternativos. Finalmente vamos passar por zonas onde eles existem, para os podermos descobrir.

Entrámos numa vila, antes de subir à serra. Perguntamos a um avô, que entrava em casa com o neto, onde podíamos encher os cantis. Parecia o Chanquete, do Verão Azul. Abastecidos, lá enredámos por uma estrada. Estreita, cheia de remendos e buracos. A subir nem se notam, de tão devagar que vamos, mas a descer, sentimo-los todos! Fez-me lembrar as estradas Ucranianas!
Apenas encontrámos o ocasional ciclista ou btt'tista nesta estrada. Foram treze quilómetros de serra só para nós e para o nosso suor.


Entrámos noutra vila. Como a próxima seria daqui vinte cinco quilómetros, achámos melhor almoçar, do que abusar da sorte. Junto a uma fonte, num pátio que devia ser reservado para as festas da cidade, fizemos a nossa receita mais popular (arroz com dois legumes), lavámos e secamos roupa, ouvimos mais um capitulo de um livro. Esta coisa dos audiobooks, é mesmo fixe! Ali estivemos durante duas horas. Não vimos, nem ouvimos ninguém. A vila estava deserta...

E para salientar mais a nossa solidão, a próxima estrada, parecia retirada de um filme do faroeste. Gravilha, e vastas paisagens secas à nossa volta. Tudo torrado do sol, e tudo tornado em pó. As pequenas elevações que apareciam, apenas ajudavam à ilusão.

A bucha da tarde, os bolos secos de azeite, canela e açúcar, foram calhar, por acaso, à sombra da capela da Virgem Maria de Pilar, que é a santa que originou o feriadoem que estamos. Todas as senhoras da aldeia iam lá, em conversas animadas enquanto caminhavam. De vez em quando, uma puxava o sino com mais força. Para chamar os fieis...


Entrámos em Navarra, com um "Small Canyon" à direita e os campos cultivados a repor verde no deserto. Estamos no vale do rio Ebro. Já passámos por ele em Logroño, mas há um ano atrás.

Foi o dia todo em estradas desertas e paisagem a condizer. Não podia ser melhor. Paz e sossego e uma longa pedalada.

Enchemos os cantis e ainda no vale, a Ana diz, meio na brincadeira, "E se puséssemos a tenda ali?". Mais por curiosidade, fomos espreitar o sitio. Com gigantescos muros de palha, corredores e degraus formados ao acaso, não podia ser melhor. Um recanto, abrigado do vento e da estrada, com terreno plano, pôs fim ao dia de hoje. Até espetamos umas estacas nos fardos de palha e pendurámos os sacos de água, criando um spot das lavagens e dos banhos. Algo que numa casa se chama, casa de banho.


Fazer campismo junto a construções inspiradoras de palha, é muito engraçado. O que não é muito engraçado é a mosquitagem que atrai no lusco fusco e a poeira que fica no ar, à menor brisa... Ainda assim, o sitio é bom.

Só já dentro do saco-cama é que reparei no conta-quilómetros. 13001 km. A foto, ficará para amanhã.icic
E com a lua cheia a inundar a tenda, adormecemos...


...há um ano atrás: Las Ventas - Duenãs

Sem comentários: