Ágreda - Cabrejas del Pinar

Todos os dias um nascer do sol, com uma silhueta de horizonte diferente. Todos os dias, um local diferente, um acordar num sitio estranho.
Tudo isto é muito bonito e romântico, mas quando se começa o dia a pedalar do topo da serra, a caminho do vale, com o sol ainda fraco e uma brioleira desgraçada, sem luvas nas mãos, a coisa perde a sua piada. Dores horríveis, que começam nas mãos e se espalham pelo corpo. Rezámos por uma subida, que já sabemos que não vem. Rezámos por um lugar ao sol, onde tomar o pequeno-almoço e repor a temperatura corporal. Foram assim os nossos oito primeiros quilómetros.
Depois de acalmar o frio, comendo figos, amêndoas, ovos, maçãs, pão e bolos, voltamos ao selim para mais oito quilómetros, bem diferentes. Estes foram a suar, até chegarmos ao topo. Hipotermia e escaldadelas, antes das dez da manhã. Mais um dia dos Nomadiclas.

Sempre a bombear, pela serra acima e abaixo. Cheios da pica, com longos troços de descidas a ganhar balanço para as subidas.  Até à cidade de Soria. Mas uns quilómetros antes de lá chegar, comemos um aperitivo, para não ter que cozinhar com fome. Encostámos as biclas ao raile e lá marchou um mega-empada de sardinha. O mais estranho, não é estar a comer empadas com um camião a fazer rasantes e a abanar-nos de dez em dez segundos. O mais estranho é já não estranharmos isto. O quão natural e normal (que já nem reparamos) é ter camiões e automóveis a passar a cem à hora a um ou dois metros connosco relaxados a comer um snack. Estamos a precisar de mudar de ares.


Em Soria, logo às portas da cidade, um pequeno parque, com bancos, sombra fresca, W.C. por perto e corrente eléctrica onde carregar os aparelhómetros, serviu às mil maravilhas. Mas o melhor, foi ter um velho conhecido por perto,e em todo o lado o seu nome afixado em hotéis, mosteiros e publicidades. Almoçámos nas margens do Rio Douro (Duero, nestas bandas). Ainda é fraquinho e com pouco caudal. A sua nascente não fica muito longe. Soube bem. Cada vez sentimos estar mais perto de casa.

Durante a tarde, continuamos a viagem pelas serras que dão água ao Douro. Já se começa a haver mais vegetação e árvores. Por isso foi fácil enredar por mais um caminho de cabras e encontrar mais um local onde passar a noite. Estamos na quarta noite de campismo selvagem, e embora cansativo, até este facto já não nos incomoda. Pelo contrário...
 
 
...há um ano atrás: Villahán - Burgos

Sem comentários: