Buñuel - Ágreda

Protegidos pelas três paredes de palha, nem sentimos a fria brisa que soprava no vale.

Arrumámos tudo, subimos os degraus de gigante para a foto dos treze mil quilómetros e saímos dali, mesmo quando os camiões começavam a chegar, trazendo mais "tijolos" para esta muralha improvisada.


À nossa frente, tínhamos o prenuncio de um dia duro. Serras e mais serras. Montes que ultrapassavam os mil metros, esperavam-nos.
Mas as subidas ficariam para a tarde. Durante a manhã, a pequena brisa virou vento frio, de frente. O mapa continua a mostrar o que sabe e o que não sabe. Sabe quais são as estradas secundárias e diz-nos onde virar e quando. Mas a informação relativa às distâncias deixa algo a desejar.

Quando chegámos à uma cidade maiorzita, com o calor já a apertar comprámos mantimentos para dois dias seguidos. Vamos um pouco mais carregados, mas vale a pena o tempo que se poupa em decisões e visitas aos supermercados.

Antes de voltar ao selim, duas novidades reparadas. As botas já têm o seu primeiro buraco nas costuras (com muita pena, pois pareciam mesmo boas e duradouras), e o rasgão nos calções ganhou dimensões de vergonha. É a roupa a dar de si, a tenda de varetas partidas e os as costuras junto aos seus fechos ameaçam mais desgraças e a bicicleta... Aí, aí. Os pedais da bicicleta bamboleiam por todos os lados. Os rolamentos já estão mais que gastos, quer em baixo, quer no guiador. As mudanças fazem sons e comportamentos estranhos. O material está a desgastar-se.

Quando se somam todos os pequenos males, até parecem maiores. E com uma subida à serra e uns camiões à mistura, a moral vai-se abaixo com uma pinta. Fomos em frente, mas devagarinho. O vale verdinho, deu lugar a um novo deserto de pó e terra.

Sem nos dar nenhuma alternativa, a nacional transformou-se em auto-estrada. Saímos dela na primeira localidade e aproveitámos logo para abastecer de água e pão, porque o dia já ia tarde. Mas e depois para voltar à estrada? O mapa indica que a auto-estrada é curta e a nacional vêm logo a seguir, Supostamente existe uma ligação a esta que não envolva pedalar na via rápida, mas qué dela?


Encontrámos a antiga nacional, barrada por um lancil que ultrapassámos dando a volta por uns arbustos. Durante um quilómetro tínhamos a estrada só para nós, mesmo sem saber onde iria acabar. Mas tal como começou, também acabou num lancil. Mas a nacional estava já do outro lado, e como vimos que a barreira metálica não durava muito, empurrámos as meninas sobre pedras de asfalto partido, picos, vidros, gravilha e não muito espaço para pôr os pés! Mas lá nos desenrascámos, e depois desta curta adversidade superada, assim também a moral subiu. Engraçado, como quando as coisas estão em baixo, basta juntar mais um obstáculo e superá-lo, para todos os outros perderem relevância!

Um pouco mais à frente, num reentrância da colina, abrigada do vento frio das alturas, montámos a casa amarela e jantámos a ouvir um livro e a ver a lua a nascer.
 

...há um ano atrás: Dueñas - Villahán

1 comentário:

Nuno Vieira disse...

Conseguir destruir os rolamentos de uma moto, já consegui por diversas vezes mas, de uma bicicleta...? Impressionante...