Roncesvalles – Bidarray

Às 6 da manhã ligaram as luzes, e a música de flautas de pã foi despertando a maioria que ainda dormia. Aos poucos o albergue foi esvaziando à medida que os peregrinos iam saindo e desejando "bom camino" uns aos outros.
Enquanto todos iniciavam a sua caminhada na direcção de Santiago de Compostela, anunciado a 790km, numa placa, nós invertemos o sentido e iniciámos a subida de 2km. Uma vez no topo foi sempre a descer...durante 15km. Frio, sombra da floresta, curvas e contra-curvas e mais curvas e contra-curvas. As mãos se travavam era somente para evitar velocidades acima dos 30Km/h, que aumentassem o vento gélido. Do início ao fim sempre acompanhados do som da água a correr algures à nossa volta. Se olhássemos para baixo, conseguíamos ver a continuação infinita da estrada como se se tratassem de degraus gigantes que descíamos, perdidos no meio da frescura da floresta. De luvas da neve postas, cabeça coberta, fechos apertados, nunca até aqui uma descida nos custou tanto e nunca ansiámos tanto que terminasse.
O que se seguiu, parecia tirado de um documentário ou revista da National Geographic. Até aí as vistas eram preenchidas por paisagens de colinas divididas em rectângulos de diferentes tons de castanhos e amarelos secos, planaltos áridos. Deram lugar, a erva verdinha e tenrinnha a cobrir tudo o que a vista alcança. As casas típicas do país basco, brancas de portadas vermelhas, agrupadas em pequenas aldeolas, as chaminés a fumegar, o cheiro a lareira espalhado pelas ruas, chocalhadas do gado a pontear as montanhas em redor. Imaginamos que o gado, aqui, tenha os níveis de felicidade nos píncaros!
Numa envolvência pitoresca entrámos em França! Avançámos até Saint-Jean Pierre du Port, onde se iniciam a maioria das caminhadas até Santiago. Com uma felicidade incontida, em parte culpa do sol e verdura contagiantes, trocámos as nossa primeiras palavras em franciú!
Prosseguimos em direcção a Bidarray, com direito a atingir os 2000km pelo meio e a assistir a um grupo de aventureiros a fazer rafting. A água devia estar mesmo boa, porque até pararam para saltar das rochas para a água, e estavam muito sorridentes.
Vimos umas placas com albergues e a vieira dos peregrinos e decidimos segui-las e experimentar a ver onde iam dar. Depois de uma subida a empurrar as bicicletas (a nossa primeira desde que partimos de Tavira), perguntando aqui e ali, descobrimos que não havia nenhum albergue, mas sim um padre que acolhia peregrinos numas instalações da igreja, próximas desta. Com a casa só para nós, janelas muitas, a maravilhar-nos com as casinhas e animais por ali espalhados no verde, jantámos, fomos para a cama.

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