Freixial – El Payo

Dia 5 de Outubro, além do centenário da república, hoje foi um dia muito importante, passámos a fronteira. Saímos finalmente de Portugal!
Uns bons quilómetros antes e outros tantos depois foi um esborrachar de bichos que nunca mais acaba. Formigas voadoras que se erguem do chão completamente alucinadas (até nestas alturas elas formam uma fila) e deixam-se ir com o vento o mais longe que as asas aguentarem os seus corpos rechonchudos e estaladiços. É claro que algumas nesta alucinação acabam inevitavelmente por colidir e espatifar-se nas nossas testas e bocas, braços e barrigas. Além de outras vantagens, que falaremos mais à frente no blogue, a utilização de óculos nestes casos é vital.
Tirando o matar bichos indefesos à beira da estrada, só começámos a pedalar a sério às 11h30. O almoço foi tardio, lanche não houve e o jantar foi sandochas. Almoçámos em Valverde del Fresno, num jardinzito. Nesta altura ficámos sem azeite, o sal vai pelo mesmo caminho daqui a  mais uma refeição e o detergente para a loiça, também não há.
Retomámos a estrada e passámos por Eljas bem lá no cimo, continuámos até San Martín de Trevejo. Aí era urgente comprar comida, já que gastámos tudo o que havia, numa misturada ao almoço, pelo que entrámos num supermercado ali na esquina com a estrada. Os donos atenderam-nos muito bem e conversámos um bocadinho. Ofereceram-nos mais umas fatias de presunto, que nos disseram ser com menos sal. Até no presunto, tão tradicional já se anda a cortar no sal, por questões de saúde! qualquer dia há presunto sem sal!
Daqui para a frente foi sempre a subir até aos muitos muitos metros de altura. Mais que o ponto mais alto da Serra do Caldeirão. Meu rico Caldeirão! Curvas e contracurvas, o som dos badalos do gado a pastar pelas encostas, um carro de vez enquando, o fresco das árvores, e o sol a desaparecer atrás de outro monte. Muito suor à frente, aqui o Mister Swet e a Miss Swettie finalmente avistaram o fim de tanta subida. Para baixo foi um instante, mas sem sol, e no meio da serra toda a pele que estava à mostra e o molhado do suor ficaram tão enregelados que doía.
Chegámos a El Payo já com um pouco mais de agasalhos, mas meio desnorteados, porque o nosso super mapa acaba aqui, por já ser praticamente de noite, e não termos jantado, nem arranjado sítio para dormir. As ruas estavam desertas, as persianas e estores fechados, parecia uma cidade fantasma. Mas não era. Alguns metros a seguir, avistámos algumas pessoas na rua, e falámos com elas para saber se havia algum sítio para pernoitar, e como não, para nos encaminharem para a estrada que nos levaria até Fuenteguinaldo. Seguimos a estrada e à primeira oportunidade enfiámo-nos por um caminho do gado, e aqui estamos de tenda montada, a melhor empanada comida até hoje no bucho e sacos cama vestidos a escrever e a dormitar. Daqui ouve-se e sente-se o vento frio. Amanhã dizem que vai chover...Vamos ver..

Sem comentários: