Ostuni - second week

Segunda-feira foi o nosso dia de folga.

O plano de ir até à loja de bicicletas já estava nas nossas cabeças desde que a Internet pifou com a trovoada da semana passada. Impedidos de comunicar com o mecânico que poderia montar as rodas que desejamos, optámos pelo mecânico de Ostuni arranjar-nos umas medianas provisórias. Vendeu-nos um par de rodas, já sem o travão de disco, pois avisado no dia que fomos à feira, esperava-nos preparado neste dia. O número de varetas ser menor, e o facto de ser uma roda de travões de disco são mais que razões suficientes para deixar-nos preocupados, e duvidosos, mas era isto ou ficarmos apeados no meio da estrada. Assim que tirámos a roda antiga e cortámos as varetas para ficar com o antigo cubo da Shimano, o aro partiu-se. Os nossos corações estavam apertados e custou-nos destruir a roda que nos trouxe até aqui, mas quando olhámos e vimos o buraco que se abriu no aro sentimos que estávamos a fazer o correcto.
Os travões que nos vendeu o mecânico Fábio têm a patilha mais pequena que o habitual e também isso é mais uma item da lista de coisas que não estão como deviam na bicicleta. Vamos esperar para ver.
Fomos muito bem recebidos na loja e já conseguimos confiar mais as nossa meninas nas mãos de um mecânico que não seja o nosso Julinho, de Lavos.
Sem admirações, descobrimos que depois de meio dia a cirandar pela cidade, a passear e a fazer compras, à espera da hora de abertura da loja, já meia cidade nos tinha visto. Quando à hora marcada a loja ainda não tinha aberto, já meia dúzia de pessoas telefonavam ou planeavam contactar o Fábio a dizer-lhe que estavam uns ingleses à porta. Ingleses, espanhóis, italianos,.. chamam-nos de tudo!

Além desta casa, a Cathy e o Keith possuem uma outra propriedade que exploram com fins turístico-lucrativos. Um trulo. São típicos desta região e há-os aos pontapés por todo o lado. São poucos os italianos que queiram restaurar ou manter um. Depois da pergunta: "São ingleses?" segue-se logo a questão:"Querem comprar o meu trulo?".
Um telhado cónico de pedra é a característica mais evidente e a razão pela qual são tão conhecidos.
O trulo da Cathy e do Keith tem uma piscina enorme diante a casa com vista para os verdes da relva e das oliveiras. Baloiços e canteiros com flores e plantas. É um sítio lindo.
Cerca de 85% das oliveiras que possuem encontram-se aqui, junto ao trulo, na localidade de Ceglie Messapica, a uns 10km do sítio onde moram.


Apresentaram-nos uma lista à chegada com trabalhos/tarefas que podíamos fazer no trulo ou na casa deles. Nada que requeresse muitas habilidades específicas e que uma demonstração não tirasse as dúvidas iniciais.

Entre os dois conseguimos cumprir quase 90% das listas. Com tarefas divididas ou partilhadas trabalhámos no duro mas com gosto. Dizemos duro só porque não estamos habituados a esta vida de campo, mas nada demais para quem sempre fez disto a sua vida.

Recolhemos ramos que podaram e triturámo-los numa máquina para os tornar mais pequenos, e serem utilizados para fertilizar e manterem árvores e jardins livres de ervas daninhas; passámos a ferro; limpámos todo o trulo - casas de banho, janelas, lavámos o chão todo, da única maneira que podia se lavado: de joelhos; recolhemos e dobrámos as redes da apanha da azeitona; limpámos os muros ao redor da casa de ervas daninhas; arrumámos a garagem e o espaço exterior à volta da casa; lixámos e preparámos as cadeiras de descanso para um tratamento de verniz que suportasse melhor os UVs; transportámos e espalhámos os fardos de palha pelo espaço das galinhas; lavámos a loiça... Resultado à noite, assim que caímos na cama dormíamos que nem uns anijnhos.


Gostámos de todos os trabalhos de uma maneira geral, e é óptimo no final ver a diferença entre o que estava antes e o depois. Sabemos que eles os dois têm sempre montes de trabalho para fazer e soube bem poder ajudá-los um bocadinho.

Têm montes de ideias e projectos e estão sempre a pesquisar, a ler, sobre o que querem fazer e como o conseguir. Todos os dias as conversas giravam em torno de formas de energia alternativa, ecologia, sustentabilidade, permacultura, compostagem, biodiesel, águas cinzentas e pretas, orgânico, biológico. Aprendemos imenso. O que ainda não aprendemos, ficou como uma semente a germinar dentro de nós.
Todos os detergentes são ecológicos, os painéis solares, a lareira, a compostagem, as cascas de ovo que vieram das galinhas e que vão para a compostagem, que vai fertilizar o que se come. É um ciclo de transferência de energia, onde muito pouco se desperdiça.


Tivemos oportunidade de provar a omeleta indiana que o Keith fez e que a Cathy aprendeu nas suas viagens pela Índia e depois de atravessar todo o sul de Itália, provar ou ficar a conhecer a maior parte dos seus diversos pratos, finalmente outro ponto alto gastronómico teve lugar. A ironia fica-se por ter sido em casa de nacionalidade britânica. Finalmente aprendemos e fizemos a massa de pizza, amassámo-la e disposémos os ingredientes, para que todos pudessem passar por 94 segundos dentro de um forno a lenha!

Mais um sonho concretizado. Pizza caseira, em forno de lenha, em terras de itália.

A massa que sobrou, aproveitou-se para fazer um pão. Nada se desperdiça nesta casa. Citando o senhor Chuck Phalaniuk: "Permacultura não é a palavra certa, mas é a primeira que me ocorre". Obrigado Keith.

Numa janela da cozinha há sempre um iPod a cantar as músicas do Keith e da Cathy. Todos os dias e todas as nossas recordações são acompanhadas de banda sonora.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que pena não terem comprado um trulo :(
Anotem as receitas de todas essas iguarias! Um dia quero provar todas!
Bjs
Mónica (mãe)