Castrovillari – Borgata Marina

Sim. O cappuccino estava delicioso e provavelmente sempre que o beber vai ser de Castrovillari e da Teresa que me vou lembrar.
Ela trabalhava em casa, e nós com dias cinzentos e campismo pela frente, não andámos com pressas. Calmamente, comemos e conversamos ao som dos talheres da manhã. Dissemos os adeuses à Teresa e fizemos-nos à estrada. Desta vez, com um destino. Destino esse que originou comentários de Facebook, entre amigas de amigas, entre uma rapariga de Calábria e outra de Almodôvar que partilham a mesma casa algures na Irlanda. É assim que se faz a nossa rota.

Com a neve à porta, uma muralha de montanhas a Norte, vento gelado de todos os lados e a promessa de chuva futura, rumámos a Civita e à apropriada chamada Ponte di Diavolo.
De uma normal cidade, passámos para um pedaleio de montanha, em estradas secundárias esburacadas. Do abrigo dos prédios, para o vento gelado das pequenas aldeias, que nos atiravam com fortes rajadas para o meio da estrada.


Algures numa destas vilas, um carro pára junto a nós, enquanto tirávamos fotos, e o condutor, rapidamente, sai e em Italiano/Dialecto, começa a perguntar se pode tirar um fotografia enquanto de facto a tirava, antes da resposta. Deram-nos as indicações para a Civita, ficaram contentes, mostraram as fotos do seu cão a brincar na neve, que mais parecia uma foto nórdica e seguiram caminho de sorriso na cara, assim como nós. Belos estes momentos da viagem!

Ao chegar a Civita, perdida entre montanhas e desfiladeiros, sombreada pelos picos e construída à beira do precipício, demos com a Piazza principal, com o panificio e a carrinha de distribuição à porta, a descarregar pizzas e pão quentinho. Nham nham. Com preços irrisórios para o seu gigantesco tamanho, abastecemos para os próximos dias, enquanto os nativos, olhavam intrigados, questionavam, inquiriam e interrogavam. As nossas respostas por esta altura já entram em modo automático e rapidamente despachamos os "uhs" e os "ahs" e passamos para conversas diferentes. Uns metros mais à frente, com o frio e vento no seu auge, inclinamo-nos sobre a ravina, tirámos a foto à maldita ponte, recusámos descer até ela e deixar as meninas sozinhas e seguimos ao nosso dia, que teimava em ficar ainda mais cinzento.


Mas Civita, antiga e típica, tinha um piso de pedra irregular que não fez maravilhas à já dubia roda traseira. Se torta ameaçava, com a descida de 20km até à costa aos altos e baixos, torta ficou de vez! Vá lá! São só mais uns dias e nós tratamos de ti! Aguenta mais um pouco!

Almoçamos pizza, encolhidos a uma canto de uma casa, na fútil tentativa de escapar ao vento. Mas o melhor ainda estava por vir. Quando o dia teimava em não melhorar, com o vento a vir de frente e a estrada a encher-se de tráfico, procuramos e rebuscamos tudo o que era sítio para montarmos a tenda. Foi num minúsculo alpendre de uma discoteca/bar de Verão, numa terreola abandonada ao Inverno, que encontrámos abrigo. Abrigo do frio e do vento. Mas não abrigo do barulho que este último fazia. Não abrigo do barulho que a chuva fazia ao bater no tecto.

Tentámos alegrar o serão, imaginando que apenas era uma brisa fresquinha, enquanto sorriamos com o Seinfeld na tenda, e esperávamos por uma noite não de sono, mas ao menos de descanso. Para o dia seguinte as previsões eram para pior.

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