Marina di Ginosa – Mottola

Nem só de pão vive o Homem... Mas os Nomadiclas poderiam viver só de focaccias...

Por volta das 7 horas estávamos prontos para partir,  mas assim que espreitámos fora das lonas vimos um carro, mesmo ali a 10 metros de nós, estacionado dentro dos limites do "restaurante". Imediatamente, entrámos em estado de alerta e a comunicação passou a ser apenas gestual e sussurrada. Lentamente, dirigimo-nos ao portão de entrada, nervosos com a possibilidade do dono saltar de lá de dentro zangado com esta invasão de propriedade privada! Mas nada. Assim que voltámos a pôr o cadeado saiu-nos um peso de cima.


Seguimos o cimento até à praia, arrastámos um banco e por ali ficámos junto aos chuveiros a pequeno-almoçar. A família de cães andava por ali perto a correr e a brincar. Mais uma vez, o cão mais corajoso, do dia anterior, chegou-se à frente, e isso fez com que ele, e não os outros, ganhasse uns pedaços do que comíamos. Um olho azul e outro castanho. Era giro.

O sol aqueceu-nos, mas não o suficiente. O vento continuou a fazer-se sentir e voltámos ao selim de luvas, casacos apertados até cima e gorros enfiados até às orelhas. Ciclámos até Pugliano sem paragens e apenas por curiosidade resolvemos parar e cheirar o que havia pela padaria mais vizinha. Acabámos a comer duas fatias de focaccia, quatro pães de azeitona e salsichas e uma mini pizza. Nada mal. Como era tudo tão bom, voltámos a entrar e reabastecemos.

Não há nada que se compare a isto. Eu que gosto de pão, e do pão português em especial, rendo-me a estas iguarias que eles por aqui vendem a sessenta cêntimos à fatia, melhor que todas as pizzas e focaccias juntas até agora, a pensar que não poderei jamais voltar a comer uma pizza, focaccia, pão ou massa que não seja cozinhada com tais apetites culinários. Antigamente, se não houvesse uma padaria, lá ia um pão de super mercado qualquer, sempre é mais barato. Mas depois em sabor, textura, apresentação e composição química, é como comer plástico.


Daqui até Mottola foi um instante. Num cruzamento, estávamos nós no meio um subida bastante inclinada à meia hora, quando um ciclista se dirige a nós a perguntar se procurávamos o Gentile. Já nem estranhamos que as pessoas assim do nada saibam quem nós somos e para onde vamos. O mundo é pequeno, e aqui toda a gente sabe da vida de toda a gente, por isso...

Era um amigo do pai do nosso anfitrião. Deu-nos as indicações exactas de como chegar à casa do Vito Gentile, depois de nos debater-nos com qual estrada seguir, e do que haveríamos de fazer para encontrar a sua casa. Não é sorte, é mesmo assim... Acontece-nos com alguma frequência e já começamos a despreocupar-nos com este tipo de coisas, porque parece que aparece sempre alguém ou algum sítio que era exactamente o que precisávamos. Resta-nos sorrir e aceitar!

As indicações exactas levaram-nos um par de casas mais à frente. O Vito veio buscar-nos, e depois de largarmos tudo na garagem fomos de carro almoçar com a sua família. Um delicioso prato típico desta região, depois da barriga ainda a transbordar da padaria. Comemos os abençoados e saudosos grelos que já não comíamos desde...

Durante a tarde andámos a conhecer os arredores. Ravinas, castelos, grutas antigas com pinturas religiosas a cair aos bocados. Sítios perfeitos para acampar, para passar um fim de semana com amigos ou sozinhos, para percorrer, escalar e saltar. Um cenário brutal que nos deixou água na boca para outras aventuras.


O jantar foi na focacciaria dos amigos, que no fim não nos deixam pagar. Com uma mãe que se intitula cozinheira aprendiz de focaccias, e que mal tem oportunidade fala do seu filho que está longe de lágrimas a bailar nos olhos. Falamos das  nossas mães, claro. Em qualquer sítio do mundo que se esteja as mães são todas iguais.

Os amigos encontrados por toda a cidade, e seguem-se convites atrás e convites, para jantar, café, passeios, e mais momentos felizes. Acabamos a noite a regressar de uma ida a um antigo matadouro, que tornaram num espaço cultural e onde assistimos a meia dúzia de canções de um grupo italiano famoso no Japão, que não tivemos de pagar porque entrámos com a atitude certa para ninguém nos pedir bilhete.

Foi assim, mais um dia de Nomadiclas.

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