Mottola – Ostuni

Vito madrugava para ir trabalhar e nós com ele despertámos.
Como iríamos ficar a apenas 50km uns dos outros, se tudo corresse bem, as despedidas foram mais um até logo que até sempre. Vito foi com as suas árvores e nós com as nossas biclas e roda torta.


Seguimos as direcções que nos ensinaram para apanhar a estrada até Martina Franca. E que estrada!
Como num passe de magia, tudo mudou. O asfalto ficou mais estreito e esburacado. Os carro desapareceram e tornaram-se uma visão rara. Curvas longas, rectas a subir a descer, mas tudo num ambiente de silêncio, rodeados por muros de pedra até perder de vista, Masserias aqui e ali, bosques densos ou campos abertos. Havia de tudo nesta Natureza domada pelo Homem. Porcos e leitões à procura de trufas atrás de sebes e junto à estrada. Cavalos e póneis misturados nos arvoredos, como se de um conto de fadas se tratasse. Muito fixe!


Chegámos a Martina Franca, abastecemos as barrigas para os próximos 25km, e lá fomos nós. As nuvens escureciam, por isso até convinha despachar, assim como a sempre torta roda traseira que não parava de assombrar a passeata.

Em Cisternino, recebemos uma chamada. Era o Keith a perguntar onde estávamos nós pois tinha feito toda a estrada, desde a sua casa até Cisternino, e não nos tinha encontrado. Sem problemas. Nós continuámos o caminho e quando uma pick-up cinzenta buzinasse atrás de nós, seria ele. Assim é complicado perdermo-nos, quando toda a gente vêm ao nosso encontro.
Um buzinadela mais tarde e o senhor de cabelos brancos, cheio de energia e calças de gangas a acusarem trabalho de pedreiro. Lá nos apresentámos, e depois de uns avisos de chuva a promessa de um almoço quando chegássemos a casa.

Ao chegar, o alívio de um repouso entre aspas. O alívio de tempo para remendar a bicla ferida.
Keith fez-nos as apresentações à casa ainda em construção e pouco depois a Cathy entra com as compras da mercearia do dia. Nada como uma bela pasta e uns copos de vinho para destravar a língua e iniciar conversações. Mas aqui não se perde muito tempo a molengar...

Enquanto houver luz, nesta casa trabalha-se. E nós como novos membros, começámos a fazer parte desta rotina. Nada como passar a tarde a preencher uns canteiros com compostagem, para ganhar apetite para o jantar.

Keith e Cathy decidiram um dia largar a rotina diária de escritório, juntar os seus tostões amealhados e vir morar para o sul de Itália. Duas propriedades. Uma com trulli a arrendar e outra para os seus projectos ecológicos de permacultura. Há cinco anos que por aqui andam no Vale de Itria e há 5 anos que não param de fazer tudo o que está relacionado com a construção, agricultura e manutenção das suas casinhas.
Pouco a pouco, o chão da sala vai ganhando forma. As arrumações mudam-se para os seus devidos lugares e a comida cultivada por eles vai entrando na panela.

Se tudo correr bem, por aqui vamos ficar as próximas duas semanas, a ajudar com as tarefas da casa e a aprender uns truques do ofício...
Se tudo correr bem, entrámos aqui com rodas velhas e cansadas e sairemos com umas rodas prontas para a porrada da Ásia...
Se tudo correr bem...

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabens ao nomadicla n.º 1!!!!

Mando-vos uma palete de beijos e desejos de um jantar italiano numa proxima visita...tenho saudades vossas...

R.