Fonsorbes - Loubières

O despertador toca todos os dias às 6:30, mas cada dia que passa a escuridão é mais forte aquela hora.

A família Même começa a movimentar-se pela casa, ainda nós estávamos a ganhar forças para dizer adeus a uma cama. Depois de quase duas semanas dentro da tenda, e com perspectivas de repetirem-se durante as próximas duas, torna-se complicado trocar o colchão pelo chão. Mas é assim...

Dissemos adeus à Berenger, que foi a primeira a sair e ao Joel a seguir. Mas enquanto uns saiam, outros, mais novos, entravam. Os clientes da Martinie, começavam a largar os seus filhotes aqui, antes de ir para o trabalho. Por acaso, a primeira que conhecemos, foi a Sofi. Não Sofia, mas Sofi. E é portuguesa, o que tornou a conversa com a mãe emigrante pela manhã, mais fácil. Aos poucos começamos a sentir sinais da nossa terra.


A manhã foi produtiva. O frio madrugador, deu lugar ao suor do meio dia e aos 30 e tal graus de temperatura. Mas embalados, após um dia de descanso e com os Pirenéus a crescerem cada vez mais. Nada de subidas e descidas. Ainda estamos nas planícies do Garonne. Quando encontrámos uma sombra para o almoço, o conta-quilómetros marcava os 55km. Nada mau.
E finalmente igualámos os dias em cima de selim, aos dias fora dele. 214 dias a pedalar e 214 das parados em algum sítio.

Claro que, tanta pedalada de manhã, causou um peculiar e não planeada ideia. E se ficássemos em Loubières?

Quando a França começou a ficar mais perto, falávamos entre nós se iríamos voltar a algum dos sítios onde passámos o ano passado e se iríamos reencontrar alguém da nossa viagem, pela primeira vez. Falou-se de todos os sítios de couchsurfing, excepto a vila onde pernoitámos durante o Inverno, onde vimos nevar pela primeira vez e que, por acaso, não foi couchsurfing. Loubière.

Durante a tarde, tornou-se óbvio que era ali que a pernoita seria. Em modo tenda amarela, ou não.
Entramos na pequena vila, e fomos logo dar à casa das nossas memórias. Estas não eram de todo agradáveis. Umas casa enorme e bela, mas na altura, muito escura, fria e desarrumada por todo o lado a lembrar uma casa de universitários.
Lemos na caixa do correio que as mesmas pessoas moravam lá. A casa dos Cinco, como passámos a chama-la sempre que nos lembrámos dela. Mas duas novas caras espreitavam-nos à porta, com curiosidade. Mariene e Jean Marc.
Explicámos quem éramos e que já tínhamos cá passado quando a Fanny nos deu a morada e contactos da malta que aqui partilhava o espaço com o namorado dela. O namorado, já não mora aqui. Ele e a Fanny estão numa nova vila e casa e à seis meses que a barriga dela cresce! Ainda assim, Jean Marc não demorou muito tempo a convidar-nos. Minutos de conversa à porta e a Virginie chega com uma expressão de: "eu já vi estas caras em algum lado..."

O resto da casa foi-se compondo. Contrastando completamente com as nossas frias e desoladoras memórias, demos por nós sentados à nossa primeira mesa redonda da viagem, a jantar com todos os habitantes da casa. Já não são cinco, mas seis. Virginie, continua com os seus alunos. Jean Marc acabou de se formar em padaria. Faz os pães sem auxilio de qualquer máquina e entrega ele as baguetes com a bicicleta, de vila em vila. Mariene, começou hoje a trabalhar numa quinta de queijos. Cédric, engenheiro hidráulico, prepara-se para viajar até à Turquia, Georgia e Arménia daqui a dois dias. Theo, constrói casas com materiais ecológico/naturais e técnicas simples e Cloe, passa os dias a ensinar os pequeninos.


Todos juntos compõe esta casa. Todos contribuem para o jantar de alguma forma e toda a gente come junta. Cheia de vida, todos cantam à mesa, canções em português, italiano, oxitano ou finlandês. Um piano ou acordeão ouvem-se de vez em quando. O vinho circula, as castanhas assadas pelam-se. Francês é falado a grande velocidade. Já não é uma casa fria.

Nunca pensámos em rever Loubières, mas ainda bem que o fizemos. Fechámos o nosso circulo Europeu e reconstruímos as recordações para algo mais quente e acolhedor. Estamos quase a começar o entrelaçado Ibérico. Estamos mesmo a voltar para casa... Às vezes custa em acreditar.


...há um ano atrás: Sarnadas - Castelo Branco

1 comentário:

Tiago Ferreira disse...

Como é bom acompanhar a vossa viagem...melhor mesmo só ser eu a andar a pedalar.
Eu já acompanho a viajem a algum tempo e quando vocês tiveram muito tempo sei postar era difícil. A maneira de escrever entusiasta fascina-me, as fotos enchem os olhos, fantástico! Parabéns!
Gostava muito que vocês passassem pelo Porto!

Parabéns e continuem!

Cumprimentos,
Tiago Ferreira