...o dia a seguir.

As bicicletas estão arrumadas sob a janela, dentro de casa, a descansar.
E nós também. ...continua a sensação de deslocado. A viagem já acabou, mas as nossas mentes e corpo ainda não se acomodaram ao sedentarismo. Não queremos acreditar que já tudo acabou, e tentamos não nos focar nisso.


São as férias de Natal para o Miguel. É ele que toma conta e vigia as nossas meninas no escritório, enquanto divide a sua atenção entre as batalhas míticas e fantásticas contra dragões, anões, duendes, fantasmas e outras criaturas cósmicas, e olha para a TV, que cospe qualquer programa. Dois olhos, dois ecrãs.
Nós apenas tivemos olhos para um ecrã. O ecrã do portátil, onde atualizamos e escrevemos no atrasado blogue. O nosso "eu" digital, ainda está a labutar de mochila às costas, em La Rioja, acabou de conhecer a Reyn, e a tendinite é uma palavra que pouco ouvimos ainda. Temos que trazer a história ao nosso encontro.

Com tudo espalhado na bancada do quarto, deixámos as arrumações para mais tarde e fomos para a rua. Fomos dar uma volta. Caminhar pela cidade como se fosse a primeira vez. Como se fosse uma cidade que estivéssemos a visitar e que amanhã disséssemos adeus. São as mesmas silhuetas de sempre, o mesmo "ambiente", mas a maneira de olhar é outra.


Na estação dos caminhos de ferro, colocamos questões sobre as facilidades de transportar as bicicletas no comboio, nas viagens para Lisboa. Facilidades? Não existem. Se quisermos entrar no "pouca-terra", temos que desmontar e empacotar as bicicletas. Pelo menos, é grátis, todo este aparatoso trabalho de desmonta-monta, empacota, desempacota. Nos autocarros, não temos tanta sorte. Para colocar o velocípede na bagageira, temos que o enquadrar na categoria das encomendas e aí, pagamos ao quilo! Depois de desmontar e montar tudo, claro. Isto, para fazer tudo dentro dos trâmites.
Se não "declararmos" que é uma bicicleta e a caixa onde ela se aperta, não der insinuações do que está lá dentro, talvez toda a gente desvie o olhar e não nos cobre uma multa. É assim, levar as bicicletas nos transportes públicos de Portugal. Pelo menos, se as quisermos tirar de Tavira. Um enredo...


Ao caminhar pela rua principal da cidade, uma velha conhecida escondia-se dos olhares de rotina dos transeuntes, assomando-se e deixando-se ver apenas por quem a conhece. A seta amarela! O Caminho de Santiago, também começa aqui e sítios que passámos vezes sem conta, durante uma vida inteira, ganham outro significado quando pensamos que está aqui um trilho que nos levará a Santiago, com outros peregrinos e experiências novas à mistura. Traz-nos uma sensação reconfortante, uma vez que os nossos corações ainda não chegaram aqui por completo. Vagueiam algures pelo que passou, entrando acanhados e cautelosos no que é e será a nossa vida até uma próxima aventura.


Fomos, timidamente, dizer olá aos nossos amigos que aqui vivem. Todos ao mesmo tempo, não, pois já percebemos que quando estamos entre muita familiaridade e caras conhecidas, o sentimento de deslocação sai reforçado e ficamos assustados. Deve ser assim, o bicho do mato das viagens...
Mas nem todos estão cá. Uns já se foram embora, outros para lá caminham, outros são mais difíceis de encontrar. Foi bom dizer olá, mas foi suficiente. Voltámos para casa, cabisbaixos, com a sensação de que nós voltamos e todos se estão a ir embora.


...há um ano atrás: Gonfaron

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