Assanha da Paz - Bairrada

Tal como adormecemos, ao som das pesadas gotas assim acordámos. Esperámos que a intensidade destas diminuísse e logo a seguir, começámos a arrumar tudo de novo, com movimentos ligeiros e sempre de pano na mão para tentar tirar a maior parte da água das coisas. Sempre com chuva a incentivar a rapidez, empacotámos tudo num ápice. Assim que ficámos prontos a partir, deixou de chover! Enfim...
Uns com chanatas e outros de Fivefingers, não se poderia dizer que os nossos pés estivessem preparados para um dia de chuva, mas à falta de melhor, teve que ser. Agora com o sol a espreitar, voltámos ao pedal por uns meros instantes até ao pequeno-almoço num jardim de Pombal. Não nos demorámos, pois o dia e os montes ainda eram longos e as nuvens ainda tinham mais que despejar.
Rapidamente chegámos à mesma estrada de à uns dias atrás e depois de uma paragem para a meia de leite em Albergaria dos Doze, uns quilómetros mais adiante e estávamos de novo na estação de comboio de Caxarias, prontos não para cozinhar, mas para ser servidos. Os nativos que tão bem nos receberam na semana passada, deram-nos as boas vindas e despreocuparam-nos avisando logo que ali ninguém iria tocar nas biclas, para podermos almoçar descansados. Era uma da tarde, quando acabámos o almoço num restaurante com uma fonte interior, e quisemos aproveitar o rápido avançar do dia para voltar à estrada e evitar assim uma molha mais tardia.
Ora chuviscava, ora fazia sol, ora vinha um aguaceiro que nos obrigava a parar e a procurar refúgio. Fosse como fosse, em menos nada estávamos em Tomar e a fazer compras no Modelo para o nosso jantar, que desta vez não seria às escuras.
Já em casa, ainda houve tempo para estender tudo o que estivesse encharcado, limpar o sujo e a lama e deixar as biclas prontas para um descanso de duas semanas, enquanto um de nós vai orientar uns tostões a Angola...
Em vinte dias de pedal, já deixámos para trás 984 km...

 

Costa de Lavos - Assanha da Paz

No Ciclocross Julinho, quanto mais cedo chegarmos, mais cedo somos atendidos. É uma lei imutável da loja. Se calhar não ser o primeiro cliente a ser atendido, é provável que fique até à hora do almoço à espera, porque felizmente trabalho não falta na oficina.
Acordámos cedo e cedo fomos tomar o pequeno almoço à praia. Já despachados chegámos a poucos minutos antes das nove, antes mesmo que os donos da loja.
O Júlio chegou, abriu o estabelecimento e fomos prontamente atendidos, um de cada vez, como se numa consulta médica fosse e os sintomas expostos ao senhor doutor.
Afinação para ali, travões para aqui, mudança assim, rodas assadas e test drives finais feitos, tudo claro, com imensa conversa e troca de opiniões, ou não fosse o Júlio um poço de sabedoria de bicicletas.
Com clientes a entrar e sair, uns à espera que nós saíssemos, travámos conversa com o Sr. José, que nos contou da sua recente aventura de bicicleta, com os amigos por Caminhos de Santiago e pela Serra da Estrela. Ao contarmos os nossos projectos de vida, impressionado ficou. Pelo menos o suficiente para ir gogglar Nomadiclas e deixar uma palavra de encorajamento na página do Facebook. Obrigado José.
De biclas afinadas, após o almoço de supermercado feito, tentámos pedalar a maior distância possível no resto do dia disponível, para no dia seguinte conseguirmos chegar a casa a horas decentes.
Pelo caminho de montes e outeiros papados, as nuvens começaram a escurecer e a juntar-se na ameaça de chuvada pela noite dentro. Com algum receio, ainda questionámos os nativos sobre possíveis parques de campismo na zona, mas sem sucesso.
Eis que começa a chuviscar.
Antes que a intensidade aumentasse, procurámos refúgio no bosque, debaixo de árvores e sobre espinhos ameaçadores para a nossa tenda que tiveram de ser previamente removidos. Tenda montada, lona a cobrir casa e biclas, e assim que começámos a falar de jantar, começa a chover a sério. À luz de lanternas cozinhámos o nosso peixe cozido com batatas, até que mesmo no fim da cozedura, o combustível acaba.
Depois das lidas da casa terminadas, adormecemos ao som da chuva que prometia um dia seguinte de pedaleio muito molhado...

Coimbrão - Costa de Lavos

Parece que não aprendemos... Uma e outra vez, deixamo-nos levar pela ideia de que o dia vai ser de poucos quilómetros e por isso saímos mais tarde. Eram dez e meia quando dissemos adeus ao camping do Coimbrão e apontámos para a região de Lavos. Terra de nascença das nossas biclas e casa do seu criador, Júlio.
Se os dias anteriores nos presentearam com casas dispersas num mar de verde, hoje atravessámos o Pacífico. Casas, nem vê-las!
Até à bonita Lagoa da Ervedeira, ainda avistámos uma ou outra e ainda passámos pela aldeia da Ervedeira, mas depois disso... Népia de nada. Mas mesmo nada!
Ao sair da Lagoa, entrámos numa estrada onde apenas os corvos a usavam. Ainda não sabíamos, mas estávamos a estrear a futura Estrada do Atlântico. O alcatrão estava mais que fresco e os pinheiros junto à estrada, acabadinhos de plantar. Até uma ciclovia, corria paralela à estrada, mas com uma via rápida só para nós, deixámos a ciclovia para outro dia.
Sempre para norte até à bifurcação que nos levaria para Lavos. Aqui acabou-se o alcatrão fresco e plano e começaram os constantes buracos e remendos toscos de anos e anos de eleições da região.
O passeio estava a ser muito bonito. Estrada nova só para nós, no meio de uma natureza imaculada, tudo ao som das cantorias de uma e dos fones do outro. Tudo muito bonito, mas o tempo estava a passar e a hora do almoço a aproximar-se assim como o implacável sol do meio dia.
Quanto mais para norte, pior ficavam as estradas e mais tempo nos demorámos nelas. Até que a estrada acabou, nuns portões de uma gigantesca fábrica no seio de Gaia, que nos obrigou a voltar para trás e escolher novo caminho em direcção a uma IC.
Os erros do Barreiro, não foram escutados e de novo, com fome e com calor, pedalávamos por uma via rápida cheia de trânsito na pior hora do dia. Para completar o cenário, o nosso ponto de almoço, Intermarché, fechou à hora do almoço! Desenrascámo-nos com umas sandes de chourição e aproveitámos para descansar um pouco até este abrir.
Mais compostos da tareia de fome da manhã, fomos montar a tenda para o mesmo spot de à um ano atrás. Lá enfiámos as biclas pelo meio do mato até ao velho poiso, mas uma vez lá, o calor da tarde e as imensas formigas levaram-nos a esquecer o descanso e a voltar para a estrada à procura de um novo local.
Na Costa de Lavos, encontrámos a praia bem servida com chuveiros e balneários públicos que fizemos questão de experimentar, após uma refrescante mergulhaça no mar do norte.
Jantar num concorrido, mas simpático parque de merendas, e tenda montada à luz das lanternas, completaram o resto do dia que acabou ao som de pinhas a cair à nossa volta.

Coimbrão e arredores

Muita paz existe neste camping...
Nem sequer gritei quando às oito da manhã a água a ferver caiu acidentalmente sobre a minha perna em vez de no leite em pó que por ela esperava! Ouch! Nos dias seguintes, bastava um pouco de sol sobre a queimadura para a ouvi-la gritar de dor: tira-me do sol!! Ouch Ouch...
Dias a tentar actualizar o blogue, a visitar as mercearias e supermercados locais, a visitar a cozinha e a visitar a piscina. Se procuram paz e sossego, melhor não vão encontrar nesta zona do Oeste.
Nós gostamos mesmo muito de cá estar...
 

Outeiro da Ranha - Coimbrão

Sem despertador...
A família Ferreira não tinha hora de alvorada e nós com poucos quilómetros no horizonte, até ao Coimbrão, tambem não. Acordar devagar, tomar o pequeno-almoço em família, com mais conversas e histórias à mistura, pintou o nosso início de dia.
Seguindo as indicações perfeitas do Victor, virámos à direita nos semáforos do Barracão, para nos deparar com mais do mesmo: árvores, matagal denso, casas dispersas e estradas pacatas. Sem inclinações de maior, lá nos molengámos quase sem nada pedalar, até às silvas mais ricas em amoras e às árvores com mais resina.
Pit stop feito e uns quilómetros a seguir, lá estamos nós de novo (um ano depois) no melhor camping do mundo! O Camping do Coimbrão.
Parece que estamos em casa, quando aqui entramos. Poucos residentes e nenhum português. Tudo imaculadamente limpo e asseado, instalações que nos fazem sentir "cozy" e um ambiente de paz e sossego. Piscina grátis, água quente infinita, net super acessível e tudo no camping mais barato que conheço! Qual Mil Fontes qual quê!
Ainda chegámos a tempo de orientar o almoço, fazer compras para o jantar e fazer uma visita à praia do Pedrogão.
Mas neste camping, o silêncio é rei e senhor e o descanso é seu lacaio...

Bairrada - Outeiro da Ranha

Cedo começou o dia, com tudo mais do que preparado depois de tantos e inesperados dias de paragem. Mas em casa. está-se sempre bem.
Com passagem por Tomar, foi sempre a pedalar até à estação de Fátima. O porquê de esta estação de comboios se situar a mais de 20km da cidade que lhe dá nome é algo que me surpreende, assim como aos inocentes turistas que a cidade vêm visitar e saem do comboio no meio do nada!
De novo na estrada, entrámos naquele que seria o cenário para o resto do dia. Árvores, matagal, casas espaçadas, localidades distantes e estradas pacatas. Um mar verde até onde a vista alcança com os montes e os vales a fazerem as vezes das ondas. O resto do dia seria a navegar por este mar e seguir o trilho da linha de ferro passando por tudo o que é estação e apeadeiro.
Em Caxarias, parámos para comprar brincos, ir ao talho e almoçar, junto à estação. Como sempre, a curiosidade dos nativos é despertada nesta altura do dia quando começamos a montar os instrumentos de trabalho.
Almoço e chá feitos e toca a subir e descer montes como sobremesa e snack da tarde, até à Albergaria dos Doze. Ainda por lá parámos um pouco, mas não nos demorámos visto os Ferreiras estarem à nossa espera por volta das seis e meia, e os montes ainda eram mais que muitos!
Que nem uns papa montes, lá chegámos com uns minutos de sobra, a Outeiro da Ranha que segundo consta, deve o nome ao som das rãs no monte.
Já em casa dos nossos anfitriões, deparámo-nos com a família Ferreira em plena acção! Uns a arrumar, outros a limpar e todos a ajudar na cozinha. Nós com a nossa inexperiência no que toca a surfar em sofás alheios, ficámos muito quietinhos e mal cheirosos a olhar e a tentar oferecer o nosso apoio, não necessário, naquilo que foi uma verdadeira acção simbiótica familiar!
No meio do corre corre e dos nomes apresentados, apresentaram-nos um rico chuveirinho onde limpar o esforço do dia e a uma mesa cheia de paparoca boa para encher o vazio depósito.
Muita conversa e risota que se prolongaram pela noite dentro. Nós já estávamos a cair de sono mas ainda nos aguentámos até esta bonita e simpática famelga se ir deitar.
Obrigado Victor, Isalina, Adriana e Raquel por nos fazerem sentir em casa.
 

Tomar, Bairrada e arredores

Depois do curto circuito arranjado, os dias começaram a ser mais calmos.
Aceitámos todos os convites de almoço dos avós. E que ricos almoços! Sardinhadas, arroz com feijão, comidas da terra vindas da própria terra! Tudo regado com vinho e azeite caseiros! Ui Ui! Bem bom.
Aproveitámos para fazer uma visita a uma loja de artigos militares em Tomar, para beber meias de leite junto à câmara municipal e para conhecer o membro mais novo da família, o Daniel.
Ainda tirámos um dia para pedalar até à praia fluvial da Aldeia do Mato, que tão boas memórias nos deu. Infelizmente, como tudo o que é bonito, dá dinheiro, o chico esperto está sempre lá para espremer até estragar todas as moedas possíveis. O aluguer de motas de àgua para o ano foi dado como certo, deixando assim poucas hipóteses de uma calma tarde junto à àgua e ao mato.
Em casa, demos uso ao que não temos na estrada. Frigorífico e fogão. Assim deu para matar as saudades de gelados e gelatinas a seguir às refeições, acompanhados de crumble de maçã.
Mas a estrada é a nossa casa e as casas onde pernoitamos as nossas férias.

Fátima - Bairrada

Com os turnos de guerra do nosso anfitrião a acabarem às sete da manhã, quando o Nuno chegou para o descanso dos justos, nós acordámos para mais um dia num sítio diferente. Ainda se pensou em passear por Fátima, mas a seguir ao pequeno-almoço uns foram voltaram para o saco-cama e outros foram navegar em frente ao ecrã de 10'.
Ninguém falava no assunto porque ambos pensávamos no mesmo. De Fátima até Tomar é sempre a descer e é uma curta viagem. Por isso a soneca da manhã prolongou-se até às duas da tarde, altura em que o senhor da casa acordou. Conversas de comidas, blogues, fogões de campismo ultra-leves, mapas, ideias e sugestões levaram ao arranque mais tardio da história dos Nomadiclas. Cinco da tarde quando saímos da garagem e sentimos a já descendente luz do sol.
A moleza do dia, também não ajudava mas pelo menos até Ourém foi de facto, sempre a descer. Mas de Ourém a Tomar, vou-vos contar: não foi a descer! Duas subidas longas, com sol, suor e moscas, aliadas a uma pouca vitalidade no pedaleio fizeram desta viagem, uma das mais difíceis mentalmente! Parecia que nunca mais acabava. Nem as vistas do Castelo de Ourém e do Convento de Cristo serviram para animar a malta.
Ao chegar a Tomar, parámos no supermercado para orientar a papa dos próximos dias e quando chegámos a casa, eram quase oito e meia!
Mas se pensávamos que os trabalhos e surpresas do dia já tinham acabado, estávamos muito enganados. Ao chegar a casa, a pensar já em banhos quentes e refeições calmas com um filmezito a acompanhar, eis que um simpático curto circuito impôs uma escuridão e um resto de noite aos pontapés com as esquinas, jantares à luz de lanternas e fósforos, banhos sem ver o surro e transporte de congelados a descongelar para a vizinha casa dos avós. Tudo sob um calor escaldante e abafado que só uma casa fechada durante dias de verão pode proporcionar.
Ás vezes, nem tudo corre como se espera e uma viagem só se torna numa aventura quando algo corre mal.

Nazaré – Fátima

Amanhecemos mais uma vez no parque de Campismo de Vale de Paraíso. Conseguimos iniciar a pedalada mais cedo, que o habitual, 8h30m! Aos poucos vamos conseguindo reduzir o tempo de arrumação.
O caminho por estradas secundárias parecia saído de contos de encantar. Bosque e mais bosque, e nós ali no meio, dos pinheiros, do cheiro e da frescura da manhã. Continuando sempre por estradas secundárias, com pouco trânsito, parámos numa estação de serviço à moda antiga para um pequeno reforço da manhã e verificar a rota no mapa. Mais a frente, uma outra estação de serviço, e parecendo um pouco mais moderna, depressa reparámos que o cartaz anunciava uma promoção em escudos! E não era tudo! Logo ali ao lado, um grupo de "antigos prisioneiros" de 4 rodas, aguardavam por alguém que os levasse dali. Ou melhor dizendo que eles levassem alguém. É claro, que anotámos o número de telefone do dono, para o enviar a certas pessoas...
Ao longe, já se começavam a avistar as protuberâncias da Serra de Aire.
Até Porto de Mós foi sempre a descer! Chegámos bem-dispostos e com muito apetite. No posto de turismo uma simpática senhora indicou-nos um restaurante bom e barato! Desconfiámos ao início, pela subjectividade do assunto, mas resolvemos experimentar. Sempre a subir, com sol e com o coração na boca, do esforço, chegámos ao moinho de S. Miguel com os bofes de fora e todos encharcados em suor.Enquanto esperámos que a sopa chegasse, ficámos a descobrir que o nome desta vila remonta a tempos antigos, na época dos romanos, quando ainda se navegava pelo rio Lena, e nele se transportavam em jangadas as pedras das mós dos moinhos. Portus de Molis. Já o famoso Castelo de Porto de Mós, depois de D. Afonso Henriques o ter conquistado aos mouros, mandou que o alterassem,sendo o resultado um invulgar castelo de feições palacianas e telhado verde! As extravagâncias do Afonso!! Nomeou então para primeiro alcaide o lendário D. Fuas Roupinho.
De volta à mesa, chegou a sopeira. Sopa de feijão, carapaus, com batatas e salada, umas 3 imperiais, e manga e bolo de requeijão para a sobremesa. Mais as entradas e a pastilha, ficou tudo em 14 euros. Toma lá, que é para aprenderes a confiar. Quando dizem que é barato é porque é! A decoração era pitoresca, e o que gostámos mais foram os interruptores de cerâmica que rodavam. Tasca de S.Miguel.
Pança cheia, subimos mais um pouco e estendemos a mantinha para dormir a folga até estar menos calor. Enchemos os cantis na fonte e preparámo-nos mentalmente para subir a serra.
Pelo que diziam as curvas de nível do mapa era só chegar até ao ponto mais alto e depois era só descer. E assim foi. Muito devagar, com uma vista brutal para onde quer que olhássemos, fomos subindo e parando, subindo e parando. Depois foi sempre a descer até Fátima.
Chegámos a entrar no recinto do santuário e vimos outros tantos peregrinos a destilar com o calor, e o exagero comércio religioso, que é tanto que já se torna ridículo.
O Nuno encontrou-nos ao pé da Casa de Benfica e daí fomos até sua casa. Com as bicicletas na garagem, subimos ao 2º andar e entrámos na porta N, de Nuno.
Pousámos as malas para logo a seguir sair para as compras. Fruta, pão e jantar. O Nuno ficou connosco mais um pouco e depois de ter feito a bucha lá foi ele entrar ao trabalho às 8 da noite. Nós por ali ficámos, entre o dvd de Giant Leap, arroz e gaspacho, uns banhos, internet e uma visita do Nuno para café, lá fomos enroscando o corpo no saco-cama para descansar.

Atouguia da Baleia – Nazaré

Não estaríamos no Oeste se os amanheceres não fossem cinzentos, com os céus à ameaçarem chuvas.
Saímos do Baleal para ir ter com as biclas a casa dos avós na Atouguia da Baleia. De caminho, em Ferrel, numa padaria da terra, orientou-se aquele que seria nos dias vindouros, o melhor alimento da estrada. Bom, barato e enche a barriga! Lá em casa chamamos bolo seco, mas acho que o nome é ferradura ou bolo das noivas. Acabadinho de fazer, ainda queimava os gulosos incautos.
De biclas prontas na garagem do avô e a pança cheia de adeuses, voltámos à estrada rumo à Nazaré.
Pelo caminho parámos em Óbidos para tirar umas fotos à bonita localidade medieval. Mas os dias de descanso, não ajudaram a lembrar que as pilhas da máquina estavam descarregadas! Resultado, andávamos a carregar uma série de pilhas vazias e um pedaço de tecnologia de plástico inútil. Na bicicleta, são as pequenas coisas que se acumulam aqui e ali, que fazem o peso que as nossas pernitas carregam.
Nas Caldas da Rainha, começámos a procurar um bom spot para a paparoca, e depois de diálogos com os nativos, encontrámo-lo debaixo de uns jovens pinheiros, num imaculado campo de relva bem cuidada, mesmo no meio de três hipermercados! Foi como almoçar junto à dispensa. Até a máquina fotográfica teve direito a almoço de pilhas Minipreço. Durante o almoço ao vasculhar a relva, começámos a ver que esta estava minada, não de cocós, mas de pinhões que serviram de sobremesa. Obrigado Natureza!
De volta à estrada e fora das nacionais de camiões, entrámos num mar de floresta e verde, antes de chegar à baía de São Martinho do Porto onde um mar de sombrinhas e toalhas sobrelotava a pouca areia disponível.
Ao avistar Nazaré, a subida imponente para chegar ao parque de campismo do Vale Paraíso assustou e fez-nos mentalizar para um último esforço antes do descanso. Já no centro da cidade, de mudanças mais baixas engatadas, iniciámos a labuta pelo meio da hora de ponta da zona. Sempre a subir e sempre a bombear, lá enredámos por uns bairros sociais para fugir ao trânsito e umas pedaladas mais tarde, estacionámos as biclas, montámos a casa, tomamos um banho refrescante e fomos socializar com a família da Cecília, André e Margarida a Alcobaça.
A mãe da Cecília, a mãe Matilde, recebeu-nos da mesma forma que recebeu a filha. Como família. No meio de muita converseta e brincadeiras com a Margarida, ainda deu para uma sobremesa de fruta com chocolate, olhares incrédulos e duvidosos sobre a nossa viagem, uns abraços e adeuses e promessas de até breve.
Foi um bom dia...

Casais do Baleal e Atouguia da Baleia

A vida no Oeste litoral, é mistura de trabalho e lazer. Mistura de velhos costumes de quem trabalha a terra e de novos costumes turísticos, tudo sob um microclima imprevisível.
Passámos os dias a acordar mais tarde do que o normal, a fazer pequenos almoços ao longo de toda a manhã e a petiscar uma coisa ali e outra aqui até aos almoços farto e saborosos em casa dos avós, dos tios e na casa do Baleal. A seguir aos almoços e de pança cheia, com o tempo incerto e tão característico da região a convidar a ficar em casa, dormitámos nos sofás e nas redes, ao som de tv's e das conversas das ondas. Ao entardecer, as lapas cozem-se, o pão com chouriço já marcha e o bolo seco da região enche, antes de um novo jantar ao som de vozes familiares. Pode-se dizer que passámos estes dias a encher o depósito de combustível, nos nossos corpos.
Aproveitámos para fazer a primeira limpeza a sério das biclas desde que iniciámos a viagem. Já vinha sendo adiada desde o Carvalhal e depois do Forte da Casa, até já cheiravam mal!
Almoçámos com a Atouguia da Baleia em peso, uma sopa da pedra da terra, para ajudar o Duarte a sair da cadeira de rodas.
Quando o sol se atreveu a espreitar, passeámos pelas praias apinhadas do Baleal e arredores. Cheias de turistas portugas e franceses meio emigrantes, mais parecem uma típica praia algarvia onde nem espaço para a toalha se encontra! Até dentro de água e no meio das ondas os surfistas e os que querem ser surfistas, enchiam as parcas ondas destes dias, com pranchas, pranchinhas e pranchonas.
Tudo isto sob a alçada do papá Sérgio, que nos guia e nos conta as histórias e os esconderijos, das pessoas e dos sítios da terra onde nasceu.
Três dias para encher a barriga de família e bem estar.

Torres Vedras – Casais do Baleal

Mais uma vez,o despertador a tocar meia hora antes de nos levantarmos. Arrumar tudo de volta nos alforges, ir buscar as bicicletas e conseguimos sair ao mesmo tempo que a Ana. Tendo em conta a hora de entrada da Ana,  foi mais a ela que conseguiu sair ao mesmo tempo que nós.
Como o pêssego que comi, era pouco para os quilómetros a pedalar, lá fomos à Tropicália trincar mais qualquer coisita. Nas bombas da Repsol parámos, novamente, para encher os cantis e pôr protector. Mais meia dúzia de metros e, parámos no Intermarché para encher os cantis (não conseguimos encher lá atrás). Contas feitas à nossa vida e, eram onze da tarde (gíria Nomadicla para: era tarde como o raio e, a esta altura, devíamos era estar a parar!!)
Lá começámos a subir, com as mudanças leves postas, o corpo oleado e a querer transpirar por entre tanto creme, com um calor, só suportável graças ao vento ameno que soprava e às vezes empurrava em sentido contrário ao movimento. Comemos um lanche na paragem de autocarro, e prosseguimos viagem, esperando parar apenas à chegada a casa de familiares, onde nos aguardaria um almoço reconfortante de avó.
Mais subidas, a bem dizer, nada de especial, a não ser o comprimento delas, que se extendia por longos tapetes de alcatrão sem fim, ladeadas de terra lavrada e com um aroma duvidável a adubo/estrume. Que fique escrito, que por terras do Oeste, os cheiros já estiveram muito melhores. Os tempos já não são como antigamente e os cheiros vão pelo mesmo caminho.
Um carro passa e apita, mais um que ou tenta avisar-nos que aí vem ele ou alguém que nos cumprimenta pelo que fazemos. Mas não,... esperem... não é um carro qualquer, é o Sérgio, que vendo o tempo a passar e sem ciclistas à vista, resolveu ir em busca destes dois Nomadiclas. Lá nos encontrou a meio da subida e abraçou, de sorriso muito contente, pelo tempo que passou sem nos pôr os olhos em cima. A moral das tropas foi reforçada e parece que era tudo mais leve. Faz de conta...
Ainda não tínhamos chegado à meta esperada e já estávamos de novo, sentados ao sol, numa cabine de entrada para uma fábrica de rações, a descansar da mais longa subida do dia, inclinação muito ténue, mas longa como tudo.. Ficámos surpreendidos pela positiva por um camionista que ia a entrar e, que antes de o fazer, perguntou ao Alexandre se estava bem e queria água. Seguiu caminho o camionista, mas ficará na nossas memórias, até outros momentos lhe tomarem lugar, este gesto solidário de um gigante das estradas com bom coração. Esperemos que compense todos os outros que passam, a voar baixinho, muito juntinho a nós e, nos fazem tremer com as bicicletas. Pelo menos por uns tempos!
Foram só mais uns quilómetrozinhos até chegar a casa. Descarregámos as malas, arrumámos as bicicletas, olás e beijos para todos e fomos almoçar. Eram duas horas da tarde!

Forte da Casa – Torres Vedras

A Princesa, não foi trabalhar e por isso esteve connosco, uma vez mais, a montar as malas nas bicicletas. Ela ficou triste e nós também...
Arrancámos nós, pela atribulada N10, cheia de trânsito e camiões, com direcção a Alhandra. A partir daí foi sempre a subir até Sobral de Monte Agraço.
Em Arruda dos Vinhos, o Intermarché foi o local de paragem para comes, bebes e evacuas. Desta vez, já com uma nova mantinha, que tanto jeito nos dá! O pessoal da zona, pareceu muito interessado em nós! Os olhares demoravam-se mais que o normal a percorrer as bicicletas. E os comentários apesar de indirectos eram animadores.
Ao se aproximarem as três da tarde, começámos a preparar-nos para voltar a pedalar montes acima. Os caminhos muitos estreitos e curvilíneos, ora se enchiam de carros ora não tinham ninguém. Vários ciclistas passaram por nós, a grande maioria de tenra idade, em sentido contrário, por isso a descer a grande velocidade. Pelo menos, mais rápidos que nós...
Desde que saímos de Alhandra até chegar a Torres Vedras as vistas mudaram substancialmente. Passaram de fábricas e estradas e carros a uma estradinha que serpenteava no meio dos monte. Parecia que cada topo tinha seu moinho, ou filas de moinhos mais jovens semeadas por aqui e por acolá. Os campos cultivados ao longo das encostas. Com vinhas tão extensas que pareciam penteados na terra, árvores de fruto, macieiras, pereiras e figueiras debruçadas para a estrada, arbustos que enchem de vários tons a paleta verde ao nosso lado, tornaram este passeio numa agradável e inesperada surpresa ainda que a subir.
Chegada a Torres Vedras, olhamos para o relógio:  são quase 18h horas! Hora combinada com a Ana para chegar.
Ao que parece entrámos pelo lado errado da cidade! Pareceu-nos uma cidade calma, com  um trânsito moderado e com gente simpática. Encontrámos o Modelo, encontrámos a CUF, encontrámos a rua, e encontrámos o prédio. E eis, que minutos depois de uma mensagem, a porta do prédio abre-se por trás de nós e ouve-se um: "Olá!". Olhámos os dois, quase em simultâneo, e lá estava ela, Ana Isa, a primeira Couch Surfer a acolher-nos em sua casa.
Com a tensão da novidade, atrasámos um pouco os horários, sem saber se seria indelicado querer ir já dormir, ou comer. Entre conversas tantas e música, fomos arrumando as malas, tomar um banho, (tornar o nosso cheiro algo mais tolerável), fazer o jantar, jantar, ir à net,  preparar o dia seguinte, e mais conversas, lá  fomos, uns primeiros, outros depois, fazer um soninho descansado. Antes de apagar a luz a Pintas ainda nos veio dizer boa noite!

Lisboa e arredores

Na quinta chegámos e numa quinta partimos.
Tempo houve para voltar a ver as caras conhecidas da família, dos amigos e conhecidos.
Tempo para pequenos-almoços, almoços, lanches e jantares em mesas familiares.
Tempo de frequentar os transportes públicos que tudo ligam e tudo cruzam e em tudo afastam as pessoas umas das outras.
Tempo para compras de equipamento em falta e refazer alforges para menos carregar nas próximas bicicletadas.
Tempo de fazer browsing na capital e nos seus stressantes conglomerados capitalistas consumistas de manadas humanas com exposições de Yodas à mistura.
Tempo de uma escapada até Tavira para reaver malas de roupa, nadar em rios perdidos no mato, jogatanas míticas em arenas lendárias e jantares com a malta.
Tempo para matar saudades do bom e do mau, de Lisboa e arredores.

Lau - Forte da Casa

Ufa...
Ainda conseguimos dizer adeus à Ana, quando atrasadíssima acordou na primeiras horas da madrugada e em cinco minutos se vestiu, lavou, correu, conduziu e saltou para o comboio com as portas já a fechar! Voltamos a adormecer.
Mais tarde, pouco a pouco a casa foi ganhando vida, com os acordares do Nuno, do ensonado e silencioso Duarte e do bem disposto já a rir Diogo.
O pensamento de que hoje iríamos chegar à nossa casa no Forte da Casa, deixou-nos amolecer e adiar a partida para partilhar com eles a sua rotina familiar matinal de comer, vestir e a seguir alimentar os cavalos. Já passavam das dez, quando de Lau saímos.
Pacatas estradas secundárias até ao Pinhal Novo, e lentamente os subúrbios de Lisboa se começaram a fazer sentir. Trânsito, prédios, barulho e poluição. Tudo a aumentar com o pedalar!
A promessa de casa no fim do dia, fez com que pedalássemos por vias rápidas de asfalto quente e calor abrasador, já para lá da hora dos raios UV de dor. No cimento do Barreiro, o escaldão disciplinadamente evitado no Algarve e Alentejo, fazia-se sentir.
Para não continuar com a loucura de chegar a casa mais cedo, refugiámo-nos num shopping abandonado para almoçar e descansar, onde apenas o Sítio do Costume se mantinha à tona.
Logo ao lado, o terminal fluvial... Embarcámos no ferry e com ajuda de um tripulante, ajeitámos as volumosas biclas numa espécie de casa de máquinas, para não estorvar o resto dos passageiros. Viagem calma de ferry antes do reboliço da marginal entre Terreiro do Paço e o Parque das Nações. Sempre na faixa do bus, sob sol escaldante e ao lado de carros em brasa, lá fizemos o percurso num estado de espírito zen, de forma a não nos deixarmos afectar pela rápidas rasantes dos mastodônticos autocarros e camiões.
Já no Parque das Nações, o cansaço caiu sobre nós com o excesso de estímulos do dia e dos constantes sentidos em alerta.
Uma hora de Nacional 10 mais tarde e a tão prometida casa e descanso semanal, finalmente chegaram.
Ufa...