Eskiçine – Aydin

Pusemos o despertador para as 6:45, mas os passos de Salih já se faziam ouvir ainda o sol não aparecera. Decidimos não esperar pelo despertador para nos juntarmos a ele, embora a vontade fosse de ficar mais umas horas na cama. Os clássicos da música turca, de um rádio algures, enchiam a nossa manhã madrugadora.


Arrumámos a tenda e fomos encontrar o Salih no alpendre com um chá de ervas, a olhar para as montanhas e a ouvir o rádio. Duas chávenas esperavam por nós junto a ele.

Preparámos as bicicletas e despedimo-nos do Salih. Se houve alturas em que nos custou dizer adeus às pessoa que encontrámos, esta foi uma delas. Atordoados com a generosidade de estranhos.

Eram oito da manhã quando começámos a descer a colina onde passáramos a noite. Combinámos com a nossa anfitriã do couchsurfing depois do almoço, mas nenhum de nós estava à espera de chegar ao destino às 10:30 da manhã! Foi sempre a descer ou quase durante 50 km!


Meltem, só estaria despachada às 19:30, por isso tínhamos muito tempo para fazer o almoço e espreguiçar. Ou não...
Quando juntámos o arroz às lentilhas, as pingas começaram a cair, os relâmpagos a trovejar e do nada um vento fortíssimo soprou do sul e com ele uma nuvem de poeira! Arrumámos tudo à pressa e refugiámo-nos debaixo do alpendre do supermercado Bim.

Por ali ficámos a maior parte da tarde. A chuva não parava e o vento ia e vinha. De qualquer forma, a cidade capital de distrito parecia-nos muito agitada para andar a passear nela. Muitos carros, carrinhas e camiões, bicicletas e lambretas num lufa lufa para algum lado.
Achámos curioso ninguém fugir à chuva ou procurar abrigo. As pingas eram tropicais, mas os estudantes paravam nos semáforos para pôr a conversa em dia, o senhor da gravata entrava no supermercado e os empregados arrumavam as decorações exteriores. Tudo sob a chuva como se esta não molhasse. No fundo é só água.

Assim que a chuva parou, fomos a pé para o centro.
Sempre na rua principal, por um passeio que lembrava o das ruas principais de Lisboa. Cheia de lojas e de pessoas a irem e virem das suas rotinas.
Meltem, apareceu à hora combinada, depois de sair de uma cerimónia na Universidade, e indicou-nos qual a rua que deveríamos seguir para chegar a casa dela. Ela tinha que ir de autocarro, porque a distância era grande demais para os saltos altos.
Nós assim fizemos. Sempre a andar, até dois rapazes se juntarem a nós na caminhada e meterem conversa. Acho que passamos bem por forasteiros com bicicletas destas. De onde são, para onde vão o que fazem em Aydin. Perguntas da treta, a mascarar o verdadeiro propósito, assim que a palavra marijuana apareceu. Sorrimos, dissemos um não obrigado e ele riu-se e pediu desculpa. Ora essa amigo!

Já em casa, algures nos subúrbios da cidade, a comida marcou de novo o passo, ao ritmo da conversa com a Meltem. Investigadora de Filosofia e Sociologia, sempre atarefada e com casamentos e cerimónias marcadas para o fim-de-semana. Ainda assim, aceitou receber-nos.
Comparámos as diferenças e igualdades com o nosso país. Como se diz esta palavra em turco ou aquela em português, e fizémo-la crer que qualquer um pode viajar de bicicleta. Que não é preciso preparação física, algo que nos perguntam com frequência e que com pouco dinheiro e alguma força de vontade, o mundo está repleto de coisas boas e experiências novas. Basta enfrentar os nosso medos.

Até manhã Meltem.

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