Loubières - Carcassonne

O dia iria ser longo e cheio de incertezas quanto ao caminho. Muitos altos e baixos? Vento a favor ou contra?
Acordámos ainda o sol não sorria, e começámos a transformação corporal em bonecos michellin. Lá fora nevava, e depois de maus dias a pedalar ao frio, não queríamos repetir a experiência.
Tudo com uma leve camada de branco. Os carros, as estradas, os edifícios, as crianças a brincar no recreio matinal da escola, a relva e os campos lavrados. Estes últimos, faziam lembrar um bolo de chocolate com uma camada de açúcar em pó por cima!
Mas correu bem. Não ouve frio que vencesse os bonecos michellin ciclistas. Mas sempre que saíamos do selim e parávamos por alguns minutos, tudo começava a gelar e a doer. O motor corporal abrandava e as extremidades esfriavam.
A bicicleta é o melhor remédio contra o frio.
Apanhámos montes sim, mas as descidas eram maiores. Apanhámos algum vento, mas depois do nevão matinal, o céu azul em frente e a sensação transmitida pela paisagem, de estarmos a pedalar para fora dos frios Pirenéus e a aproximar-nos do mar, era mais forte do que qualquer borrasca de vento perdida.
Depois de algumas vilas e cidades medievais, eis que chegámos a Carcassonne. Eram 15:30 e já tínhamos os 80km de T.P.C. pedalados. Agora restava-nos esperar e cruzar os dedos para que o nosso anfitrião não falhasse. Philippe combinou connosco às 19h na praça central da cidade. Depois de vários SMS enviados, a avisar da nossa antecipada chegada, mas não entregues, começámos a temer o pior e a formular planos B de campismo selvagem vs albergue.
Para passar o tempo e vencer o frio, percorremos todas as ruas e ruelas em volta da praça, várias vezes. Fomos ao Mac, atestar o depósito e comunicámos com o mundo digital.
Mas as 19h, chegaram e passaram, e já resignados a procurar um albergue e a sair da praça, eis que em sotaque francês, a palavra "Alexandre" se ouve por detrás.
Philippe apenas se tinha atrasado um pouco e perdido o telemóvel no comboio.
Na sua pequena mas muito acolhedora e organizada casa, aprendemos que cerveja com xarope de morango é uma delícia de aperitivo. Que legumes ao vapor e omeletes saciam qualquer desportista esfomeado. Que a Córsega é a terra do coração deste Ironman que se prepara com afinco para uma competição de triatlo em Julho. Que no Cazaquistão fazem bons chocolates. Que a mesa da cozinha era uma garagem de bicicletas por debaixo. E que mesmo numa grande cidade, num apartamento minúsculo e sem qualquer planta ou quintal, existem pessoas que fazem compostagem! No meio de muitas conversetas e risotas, lá se fez mais uma noite e depois de cada um na sua cama e da vida digital tratada, o repousador sono apareceu já de madrugada...

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