Rethymno - Third week

As duas semanas tornaram-se em três enquanto esperávamos pelas encomendas e deixámos que a rotina do parque se tornasse familiar. Mas não éramos os únicos. A Marisa também andava a deixar atrasar a sua data de partida. Era para ser segunda-feira, depois terça e depois para a semana. Lisa e Tanita, há muito que têm avião marcado para dia 10 de Maio. Iraklio - Manchester.


A segunda-feira começou com um belo de um susto. Durante a sua rotina matinal de destapar as delicadas jibóias e serpentes, o Alexandre, com os movimentos mecanizados e olhos arramelados, soltou a primeira camada, contra a chuva. Entre uns bocejos (eram 8 da manhã!), ao desprender a segunda camada, contra o frio, eis que uma serpente aparece fora das grades! Num movimento rápido, voltou a tapá-la. Será que uma conseguiu escapar? Desceu das rochas e junto à porta de entrada da casa dos répteis, contou, 1,2,3....4! Estavam todas dentro da sua casa! Aquela era uma serpente nova.
Um telefonema ao Mihalis, que já estava na escola, e cinco minutos depois, lá vem ele a correr a perguntar: “onde está? onde está?”
A nova serpente revelou-se uma velha conhecida. Há 6 meses que a serpente australiana escapou durante uma tempestade que abriu as portas da casa. Parece que teve saudades, pois voltou para o seu ninho e depois de ser posta no respectivo lugar, vimos com surpresa o animal de 2 metros a serpentear até as outras colegas dorminhocas, como que a dizer: “olá, estou de volta!”
No mesmo dia, mais tarde, descobrimos que umas das serpentes mais pequenas, num outro viveiro, escapou por uma brecha mal tapada na porta. É assim. Umas voltam, outras vão dar uma volta.


A semana continuou pacatamente no Nature Park de Rethymno.
O feta continuou a ser presença assídua nas refeições, tal como os seus colegas pepinos, tomates e oregãos. O Tzaziki que um livro de receitas ensinou, fez a sua aparição mais do que uma vez, assim como o arroz com lentilhas à moda de Creta. Tudo regado com o vinho caseiro da família do Mihalis.
A Marisa continuou com o seu mural de pintura. Lisa e Tanita desenrascavam onde era preciso no escritório e nós continuávamos com a auto-aprendizagem de carpintaria com material reciclado. Concertávamos placards, construíamos janelas...
As gerações mais novas de coelhos desapareceram, misteriosamente durante uma noite, sem um único som ser ouvido. Suspeitou-se de animal selvagem... mas qual? A gata ranhosa continuava a espirrar por todo o lado e a distribuir más disposições a todos os que vislumbravam a ranhoca a sair grotescamente do nariz para a boca. O pinto mais pequeno e fraco, foi encontrado morto dentro da sua gaiola. Os irmãos andavam a fazer-lhe a vida negra e o Darwin não perdoa.


Ficámos a conhecer o famoso vento do sul. Na costa norte de Creta, quando o vento têm ares africanos, é o salve-se quem puder! É impossível trabalhar. Mais não podemos fazer além de certificar-nos de que os animais, as instalações e tudo o que é ferramenta e material espalhado pelo parque não voe pelos ares até ao centro da cidade mais abaixo. A casa de brincar, reconstruida durante a primeira semana, voltou a cair. Uma casa que precisou de quatro pessoas para a transportar! E quando é só o vento estamos com sorte. Por vezes o vento trazia os seus amigos de guerra, Sr. Frio, Dr. Chuva e Major Relâmpago! Tudo para no dia a seguir, estar um dia de Verão, de céu límpido e sol de escaldão. É assim Creta.

No final da semana, Susanne levou as raparigas à costa sul, numa road trip improvisada, com direito a caravana e tudo. Nós ficámos com o Mihalis a tomar conta do parque. Não havia muito trabalho, por isso aproveitou-se para conhecer melhor as redondezas do parque. Mihalis mostrou-nos as vistas, a fauna e a flora junto ao desfiladeiro. No regresso carregámos com um tronco e passámos o resto do dia a esburacá-lo com o berbequim. Futuras casotas paras as abelhas gigantes da zona.


E as encomendas chegaram finalmente! Uma de casa, outra de uma loja em Inglaterra. As rodas feitas à medida do freguês, encomendadas em Itália e à espera de morada fixa, chegaram com sucesso a Rethymno. No mesmo dia, fomos falar com o mecânico de biclas amigo do Mihalis. Nikos. Com ar de quem trabalha demais, e de quem têm sabedoria a condizer, lá conseguimos marcar a cirurgia delicada às nossas meninas para a próxima segunda-feira. Sim, porque temos umas rodas novas, mas antes de as pormos ainda as temos que esfuracar todas! Mas Nikos, dispôs-se a ensinar-nos enquanto fazia os seus afazeres.


Sem sequer sentirmos o tempo a passar, estamos em Rethymno à três semanas, a caminhar para quatro. Entre serões a ver séries, rotinas matinais, carpintaria, chás, cozinhados caseiros e partidas de gin aos serões, o estilo de vida sedentário vai-se infiltrando em nós. Mas é bom. Assim temos tempo para pensar sobre onde iremos a seguir a Creta e o que queremos mais aprender, de uma viagem de bicicleta que já tanto nos ensinou.

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