Kopanaki - Megali Matiniea

Ao amanhecer, o dono das terras, onde havíamos repousado, voltou para mais um dedo de conversa. Novamente, a linguagem gestual a provar que não precisamos de falar a mesma língua para nos fazermos entender. Percebemos o suficiente para entender que se quiséssemos, na próxima vez que por ali passássemos, poderíamos ficar em sua casa e não ao relento.

A estrada para Kalamata foi fácil. O que não quer dizer que fosse interessante. Por ser das maiores cidades da região, todo o tráfico convergia para lá, por isso de vez em quando lá tínhamos o camião da praxe a fazer umas razias aos sacos.

Com o sol a começar a aquecer, parámos numa terreola, para fazer a bucha da manhã. Desta vez, acompanhada pelo leite de cabra fresco que o pastor nos ofereceu. Tão fresco era, que bastavam dois golos para se ficar cheio e repleto.


Depois de passar uns minutos valentes a entrar e a tentar evitar o trânsito dos arredores da cidade, procurámos um porto, marina ou algo similar. Gostamos de fazer as nossas refeições junto à água, e até agora as marinas e portos são bons spots de calmaria para um piquenique.
Eis que, um buraco na estrada, um momento de distração e um suporte dianteiro completamente torto, fazem mudar os nossos planos! Tal era o buraco, que a roda entortou-se um bocadinho e o suporte saiu dos parafusos! Era impossível voltar a colocar lá a mala. Procurámos uma sombra para pensar sobre o assunto. Eram duas da tarde e tudo estava fechado. Tirámos as malas e tentámos endireitar o suporte à força de braços. Mas não dava. Tínhamos que o tirar de lá. Infelizmente a nossa oficina apenas tinha uma chave inglesa para as porcas e parafusos que vinham aos pares. Enquanto um ficou a tomar conta das coisas, o outro foi para a marina procurar uma chave inglesa!
Alguém passa de lambreta, um acenar de braços, um explicação gestual e eis que a pessoa certa foi encontrada. O tipo da lambreta era o mecânico da marina que ia almoçar. Emprestou-nos uma chave e indicou onde a colocar de novo, uma vez utilizada.
Retirámos o suporte e começámos a pisá-lo, entortá-lo sobre pedras e sob botas até que ficou ainda melhor do que quando saiu torto de Pamplona!

Refugiámo-nos numa sombra, com vista para os veleiros e iates que por ali estacionavam. Antes que mais problemas acontecessem, fez-se de novo uma revisão completa ao fogão e uma substituição de algumas peças demasiado gastas. Valha-nos o material suplente que carregamos nos alforges.


Acabámos o almoço por volta das 16:30 e antes que se fizesse mais tarde, voltámos à estrada para percorrer os 15km que nos separavam da casa da Dianne, a nossa anfitriã. Como já vem sendo rotina, os nossos anfitriões constroem as suas residências nos topos das colinas e montanhas mais altas e de preferência no fim das estradas mais inclinadas.

Seguimos as indicações da Dianne. “Perguntem por mim, que por aqui toda a gente me conhece”. Foi o que fizemos, de boca em boca, lá encontrámos a “casa” dela, ao mesmo tempo que ela regressava a casa.

A Dianne veio com o seu, recentemente falecido, marido para a Grécia há já uns anos, e juntos tentaram construir um canto para passar a sua reforma em paz. Com o tempo foram fazendo acrescentos à “casa” e quando lá chegámos, encontramos um edifício que fazia de cozinha, uma casa de banho no topo do terreno, uma biblioteca/escritório e dois yurts espalhados por ali, nos quatro patamares de terreno que possuem.
O yurt é a famosa casa típica da Mongólia, e claro que quando nos perguntou se queríamos ficar na biblioteca ou no yurt que fazia de sala, não hesitámos. O nosso primeiro yurt! Na Grécia!

Com vista privilegiada sobre a baía, bebemos uma vinhaça com sabor a pôr-do-sol, e quando escureceu, fomos a uma taverna comer saladas de feijão frade e carnes afins, ao som do albanês que se ouvia na sala. Todos os trabalhadores da terra são maioritariamente da Albânia e vão para ali ao fim do dia. Ali têm uma televisão com que se distrair.

No centro do tecto do yurt, uma abobada de vidro, deixou-nos adormecer a ver as estrelas.

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