Elsterweda

Como os dias ameaçavam ficar negros, não nos chateámos muito em ficar dois dias fora dos selins. Passámos o fim-de-semana em Elsterweda com a Kerstin.
Como o pessoal do andar da Kerstin andava na ronha, fui lá abaixo admirar o jardim e o sol enquanto durava. O pai e a mãe da Kerstin já andavam na lavoura dos seus legumes e flores. Tentei meter conversa com o pai, que às primeiras horas da manhã, já vinha a suar. Falámos um bocado. Falar não, gesticular e palavras monossilábicas para perceber como a pérgola em bambu tinha sido construída. Mas o meu alemão era tão bom como o inglês dele, e a conversa ficou por ali.


Após pequeno-almoçar, fomos de pópó até ao armazém do sócio e amigo da nossa anfitriã, ajudar a construir um carro de desfile, para as festividades de Elsterweda que se aproximavam. O armazém era enorme, e por todo o lado reinava o bambo. mobília em bambo, amostras de possíveis padrões de chão/parede, ferramentas de carpinteiro, lianas secas e montes de bancadas. No centro do armazém, um enorme atrelado, com dez metro de comprimento e da altura de um camião. Com um palco central, uma esplanada, uma mesa de DJ, uma casota e um alpendre, quase que se podia viver ali!
O dono do armazém, Amin, era um daqueles tipos que não se encontra todos os dias. Recebeu-nos com um sorriso e de braços abertos. Ficou super-contente por ali estarmos e por estarmos a ajudar. Sempre que nos apanhava ao pé dele, não parava de falar. Com o tempo fomos descobrindo a história de vida deste homem singular...

É alemão da parte da mãe e marroquino da parte do pai, e com uma infância e adolescência passadas nas Filipinas, pareceu-nos tudo menos o típico alemão que imaginamos. No seu inglês perfeito, contou-nos as suas histórias turbulentas nas Filipinas, falou-nos do seu país (as Filipinas) e da maneira de viver por lá. Dos costumes e tradições. Dos defeitos e dos feitios. Nunca parava de falar e nós absorvíamos tudo como umas esponjas. E ainda nos dizia que a mãe quando falava, não parava! Tal mãe, tal filho!
Das Filipinas, trouxe a sabedoria de trabalhar com um material mágico da natureza: o bambo. Importa o material de lá e juntamente com a Kerstin, montam e decoram espaços de lazer e bem estar. Bares, discotecas, festivais e restaurantes, já estão nos seu portofólio.


Os amigos da Kerstin iam chegando e aos poucos a trupe ganhou forma. As cervejas também não faltavam. Estamos na Alemanha e aqui o normal, são as jolas de meio litro! Alguém trouxe uns pães e umas salsichas.

Apertámos cabos e bancadas, levantámos alpendres, decorámos com flores e espetámos uns agrafos aqui e ali. Todos participavam. Ao fim da tarde o atrelado parecia outro.

A fome apertava. Chega de trabalho. Era sábado, por isso não era preciso esfolar o couro. A Kerstin foi à frente, comprar a carne e nós fomos com o Amin. O ponto de encontro, o alpendre de bambu no jardim da Kerstin.


Enquanto as mulheres tratavam da salada, a Ana conversava de copo de vinho na mão com a Ursula, a mãe do Amin, os homens faziam fogo e preparavam a carne para grelhar. Um molho de marinar, com toques filipinos do Amin, um aspirador que expelia o ar para apressar as brasas, umas meias litronas na mão.... Ahhh! Que bela grelhada e que bela jantarada pela noite dentro. Sempre com o Amin e a Úrsula a dominarem o tempo de antena e a levarem-nos pelas suas palavras até às Filipinas.

No domingo ninguém tinha nada para fazer. O Amin, ficou por lá e tomámos um pequeno-almoço/almoço tardio, repleto de salsichas, ovos mexidos, pão e manteiga.

A conversa serviu para passar o dia e a molenguice domingueira também lá se metia. Quando parou de chover, antes do jantar, fui ajudar o Amin a preparar o material para o seu próximo serviço, num centro comercial no sul do país. Aprovéitou-se e levou-se a bicicleta com sidecar para o armazém, para lhe dar uns retoques. Algo do género é perfeitamente rotineiro nas Filipinas e o Amin, decidiu montar uma cá, só para se divertir. Tive que atravessar a cidade com aquilo, e mais parecia estar a manobrar um elefante cego e desorientado. Abençoados travões e sortudos os inocentes carros estacionados pelo caminho!


Mais uma jantarada debaixo de um alpendre de bambo, mais uma conversa com ares asiáticos pela noite dentro, e o fim-de-semana ficou feito.


...há um ano atrás: Vila do Bispo - Carvalhal e Carvalhal

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